quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Avesso

Hoje, 09 de dezembro, é o dia mundial de combate à corrupção, e acabo de ver as cenas dos policiais do Batalhão de Choque do Distrito Federal avançando sobre um grupo de manifestantes que estava em frente ao Palácio Jaburu (que nome adequado), sede do governo do DF, utilizado mais para solenidades e sem finalidade administrativa (talvez o excesso de vidro de Niemeyer não ajudasse a dinâmica da "reza" que tomou conta da cúpula daquele governo). A imagem me lembrou uma cena célebre da história do Brasil, mas os que estevam sentados no asfalto não tiveram a sorte de ter várias bolinhas de gude para dificultar a chegada da cavalaria (sim, isso mesmo, a cavalaria) que avançou contra eles.

Com spray de pimenta (o
must entre as forças de segurança), cassetete (clássico), bombas de gás (síndrome de Bin Laden), os policiais não livraram a cara de ninguém, nem da imprensa, que lá estava fazendo o seu papel. Agora o ministro da Controladoria Geral da União fala ao povo em horário gratuito e dizendo que faltam reformas mil no Brasil (política, eleitoral etc.) e que é comum um corrupto (alguém já viu um, de direito, de perto? Parece Uirapuru, com canto encanta e não aparece) não ser condenado a nada - a não ser ficar com cara de panetone (não mais de pastel, porque essa cara é a nossa diante dessa confusão toda).

Já escrevi aqui que não nos iludamos com essa situação do Distrito Federal. Por conta da ameaça que um secretário sofreu, soubemos de tudo isso, mas fosse o Arruda um homem inteligente (será?), nunca saberíamos de nada, e ainda corríamos o risco dessa criatura ser candidato a vice-presidente (vai vendo o tamanho da encrenca em que estamos metidos). Ou seja, é gigantesca a chance de termos uma imensa parcela de governos funcionando com base nessa mesma estrutura, e o que é pior, com poder para controlar os Batalhões de Choque para inibir manifestações contra si. A vontade que dá é instalar uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) é lá em Brasília mesmo, no plano piloto, limpando a cidade dessa situação toda, porque até agora, o que não vi se manifestando foi a estrutura do Judiciário. Não apareceu um magistrado para falar nada, e polícia que é bom para prender esse bando de vagabundo, só vi do lado dos bandidos.

Do lado do povo das togas, só a OAB, que mandou conselheiros como observadores da manifestação (quem conhece a OAB e os conselheiros com ternos bem cortados no meio de manifestantes, deve pensar que Papai Noel também existe), e esses alegam que nem tiveram tempo de fazer uma negociação. A polícia do DF entrou e baixou o cacete mesmo, sem papo furado, e o coronel Luiz Fonseca (anotei o nome), comandante da PM de pindorama, disse que estava garantindo o direito de ir e vir do cidadão brasiliense. E o direito de ter um governo que preste? E o direito de ter o valor de seus impostos investidos na melhoria de vida de sua população e não em cavalos?

Hoje é o dia de combate à corrupção, e o vice-prefeito de Manaus acaba de ser preso, mas isso já virou notícia comum, tão comum como a de que um juiz do TRE do Pará concedeu liminar para que o prefeito de Belém, Duciomar Costa, fosse mantido no cargo à revelia do fato de que usou o dinheiro da máquina administrativa para se reeleger. Arruda acaba de entrar com uma ação para barrar qualquer ação do seu partido, o DEM, contra ele, sinal de que quer garantir legenda para tentar a reeleição também. Se Duciomar pode, porque ele não? Quem sabe descola um magistrado muuuuuito isento que lhe garanta esse direito, não é mesmo?

Hoje, dia de combate à corrupção, vejo tudo do avesso, vejo safado chamado de doutor ou excelência, e trabalhador levando cacetada de outro peão cumpridor de ordens, agindo "sob o estrito cumprimento do dever" e arrotando direitos com bafo de mofo do "calaboca" que colocou no bolso. Hoje, dia em que deveríamos gritar e pedir que isso acabe, vejo que o caminho é longo, e que andamos muito pouco desde a cavalaria de 1968 e a de agora; a democracia, este bebê que insiste em seguir, parece um menino Mogli perdido na selva depois do naufrágio do navio dos princípios, enquanto 04 irmãos são enterrados depois de morrerem soterrados por conta da chuva que caiu em São Paulo.

Há muito o que seguir, há muito o que construir, há muito o que viver, há muito o que fazer, e no avesso disso tudo, desligo a tv depois do "boa noite do Bonner" e torço para que amanhã as notícias sejam melhores e que cheguemos "ao avesso, do avesso, do avesso".

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Gente é para brilhar!"

"Assim como um homem ou uma mulher se converte em pessoa de caráter à medida que conseguem responder proativamente aos desafios que a vida lhes oferece, uma sociedade se torna coesa e se projeta quando é capaz de entender quais são os desafios que deve superar coletivamente" (Bernardo Toro)

O título deste post traz uma parte de uma famosa música de Caetano, e utilizo para expressar de maneira direta o que senti ao ler textos de alguns especialistas em RH que trazem à tona uma coisa que deveria ser simples, mas, talvez pela sofisticação que a simplicidade verdadeira sempre traz em si, não é comum de ser vista no mundo das corporações em geral: as organizações são feitas de pessoas, e são elas o seu maior patrimônio.

Toda pessoa jurídica é, de fato - e mesmo de direito, porque sempre precisa de um preposto para lhe representar - feito por pessoas físicas, e são elas que decretam o sucesso ou o fracasso de uma instituição. O trecho do texto do educador colombiano Bernardo Toro, que coloco acima, destaca isso e reforça que é a partir delas, as pessoas, que construímos uma comunidade de sentido que conseguimos chamar de país. Putnam, fazendo o caminho inverso de Tocqueville - que havia estudado a América - se debruçou sobre a Itália e constatou que existia nas cidades do norte daquele país - mais desenvolvidas e estruturadas do que as do sul - um forte sentimento de solidariedade e confiança, que ele denominou de "capital social". As pessoas resolviam eventuais conflitos de forma pacífica e amigável, e a confiança de ambas as partes no cumprimento do estabelecido era a principal garantia não somente da resolução de um problema pontual, mas da construção de uma sociedade calcada em princípios sólidos de caráter.

Quando vejo a coqueluche que o tema da sustentabilidade se transformou, percebo que ainda há um descompasso entre o que se fala e escreve e o que de fato se faz, e, mesmo com os avanços evidentes que encontramos, a percepção sobre o capital humano ainda deixa a desejar.

Recentemente estive à frente da área de comunicação em uma organização, e vi os efeitos positivos que olhar o público interno como principal stakeholder causou, assim como pude constatar que a promoção do voluntariado dentro de corporações proporcionou um nível de relação entre áreas de uma empresa que dinamizou bastante o processo de trabalho. A sensação de pertencimento gera um envolvimento maior com as questões do coletivo.

Somos todos seres humanos, somos mola propulsora de uma sociedade que se formou a partir do olhar para nós mesmos, e nos tornamos sociedade quando passamos a considerar o outro como um elemento com o qual nos relacionamos, com o qual acreditamos que podemos trocar, e essa troca se dá quando nos dispomos a ouvir o outro, seja ele par ou não no mundo corporativo, porque, antes de tudo, goza da condição de humano, e isso já nos faz pares no viver. Considerar isso é pensar em sustentabilidade. Perceber que uma média gerência insatisfeita pode inviabilizar os mais arrojados planos de inovação, que o chamado "chão de fábrica" (acho horrível essa denominação) tem muito a nos contar sobre fluxos mais eficazes de negócio, é pensar e considerar uma instituição como o ser orgânico que de fato é.

Tratando das relações que vão além de seus muros, que se estendem às casas de seus colaboradores, às escolas de seus filhos, aos clubes que frequentam, aos lugares em que celebram o seu espírito, compartilhando de suas vidas, os entes corporativos pavimentam uma trilha sustentável de vida, possibilitando a construção de caminhos alternativos nos momentos difíceis, assim como os de celebração nas vitórias alcançadas no decorrer do processo, mas isso, caros amigos, se faz com liderança exercida com responsabilidade, com equilíbrio e sem auto-suficiência, e aí está um dos grandes desafios.

A necessidade de construção de um mundo sustentável não é mais "moda passageira de gestão", é mais do que realidade com a ocorrência de graves problemas climáticos, e se essa transformação se dá a partir dos países e das corporações, detentoras da maior parte da renda mundial, é nas pessoas e na figura individual de cada um de nós que ela nasce e se fortalece.

O mundo é uma rede, e nós somos um ponto na trama que a compõe. Quanto mais pontos conscientes tivermos, a rede mais forte será, e o nosso amanhã há de ser feliz depois de um sono tranquilo. Vamos a ele!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guerrilha no Asfalto

No Rio de Janeiro, o governo do estado vem intensificando as ações para instalar mais Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nos morros da cidade, com especial olhar sobre os localizados na zona sul. Com o morro Santa Marta sendo utilizado com principal cartão de visitas dessa política de segurança, outros já foram ocupados, como Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, Batan e Cidade de Deus, na zona norte.

Formado por recrutas recém saídos da academia de polícia (princípio que tem o objetivo reduzir os riscos de "vícios" já incorporados por integrantes mais antigos da tropa), as UPP's têm apresentado resultados interessantes com a instalação de programas sociais que levam às comunidades ações nas áreas esportivas, culturais e educacionais, como aulas de hip-hop, capoeira e informática. O governo pretende beneficiar mais de 300 mil pessoas até o final de 2010 com essas ocupações.

Seguindo o seu cronograma, a Secretaria de Segurança agora procura instalar uma UPP nos morros de Pavão-Pavãozinho (Copabacana) e Cantagalo (Ipanema). No início da semana (30/11), policiais do BOPE, do batalhão de choque e integrantes de grupos de elite da polícia civil ocuparam os dois morros, com integrantes do BOPE descendo de helicóptero na parte mais alta. Sem resistências consistentes, hoje pode-se dizer que existe o controle daquelas localidades pelos policias, e logo teremos a instalação da tão esperada UPP.

A novidade é o que está acontecendo agora. Utilizando técnicas de terror e de guerrilha, os traficantes estão conseguindo manter os moradores desses bairros apreensivos, e forçaram o fechamento de parte do comércio de Copacabana ontem (01), incendiando um ônibus em plena Av. Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro. Agora, enquanto escrevo este post, uma bomba caseira explodiu próximo ao Shopping Cassino Atlântico, localizado na "fronteira" de Copacabana com Arpoador. O alvo era mais um ônibus, que não foi atingido, mas o rosto das pessoas em vota demonstra o estado de apreensão que ainda paira no bairro.

Táticas de guerrilha serem usadas pelos traficantes não é novidade, e isso tem se sofisticado com o tempo, resta agora saber como é que a Secretaria de Segurança vai lidar com este embate que não é realizado dentro da comunidade, mas no asfalto em torno dela, exatamente no meio do bairro símbolo da cidade maravilhosa. Ao andar no bairro, segue um bom conselho: atenção redobrada, especialmente com motos em alta velocidade e com duas pessoas, porque, por hora, parece ser mais fácil andar em Bagdá do que aqui.

Em tempo: Pavão-Pavãozinho e Cantagalo são controladas pelo Comando Vermelho, a maior facção criminosa atuante no Rio, e são consideradas estratégicas, porque movimentam cerca de R$300.000,00 por mês com o tráfico de drogas. As armas não são de brincadeira. E sempre vale aqui a pergunta: como é que esses bagulhos armas sobem o morro, parceiro?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Haja panetone!"

A expressão do ministro Ayres Brito foi proferida após ser informado de que o governador Arruda recebera o dinheiro de seu assessor para comprar panetones que seriam distribuídos à população carente do Distrito Federal. Já o colunista José Simão informa que o governador queria mesmo era comprar a Bauducco, tamanha a quantidade de dinheiro recebido no esquema de corrupção, instalado desde 2006 (difícil acreditar que não ocorria beeeem antes disso).

Fato é que quando menos achamos que nada mais pode nos surpreender, aparece o maior escândalo político que já se viu no país - até agora. A quantidade de vídeos e gravações feitas, onde aparecem integrantes dos poderes executivo e legislativo do DF, posicionados em cargos de alto escalão - como é o caso do próprio governador e do presidente da câmara distrital, equivalente às Assembléias Legislativas dos estados - além de fornecedores do governo, deputados, secretários, vice-governador e dono de jornal, que deveria informar ao invés de ludibriar, caíram como uma bomba no cenário político nacional.

O DEM, partido que mais se empenhou na investigação do mensalão do PT, se viu com o seu próprio sistema de compra de votos e corrupção montada na estrutura que era, até então, tida como uma das mais respeitáveis administrações públicas do país. O governador Arruda angariava inclusive o respeito de integrantes de partidos de oposição, pelos indicadores demonstrados, o que teoricamente lhe rendia o apoio da quase totalidade de deputados da câmara distrital. Resta saber se eram todos remunerados com panetones ou não.

O PSDB, que integra o governo com o seu presidente regional sendo envolvido no escândalo, vislumbra efeitos negativos para a parceria entre os partidos para a eleição de 2010, por isso tomou a decisão de deixar o governo do DF para não se ver ainda mais contaminado com a lama que anda escorrendo por lá, e que Arruda já disse que poderá ser maior ainda, caso o partido insista em "radicalizar" com ele. Fico aqui pensando o que seria "radicalizar" para ele...

Mas a questão é, se acharmos que isso é um fato isolado, logo teremos outro escândalo nos surpreendendo, porque esse esquema, usado por PT, PSDB e DEM em diversas esferas de governo, é padrão, e deve ser lugar comum nos gabinetes, meias, cuecas, residências oficiais e demais buracos em que esses roedores se metem. Solução para isso? Transparência! Exatamente o que não se consegue aprovar no congresso ou em assembléias legislativas.

Para que possamos acompanhar isso direito, para que a quantidade de furos que fizeram na mangueira da democracia sejam fechados e deixem de escorrer a dignidade necessária, é fundamental o envolvimento de cada cidadão, individualmente e organizado em espaços coletivos como as redes sociais. As estruturas de controle existem, e, se elas não fazem pontes com os cidadãos, tratemos de criá-las em direção a elas, façamos com que cumpram sua função ou sejam reorganizadas ou mesmo extintas, como é o caso dos Tribunais de Contas. O que não dá é para sermos surpreendidos com um governador pego com a "boca na botija" tendo a cara de pau de ler as aspas do texto feito por seus advogados, que, diga-se de passagem, são três, escolhidos entre os mais caros do país.

A julgar pelos honorários que o governador está pagando, o Natal da "famiglia" Arruda será minguado de panetone.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

COOPERIFA - A força que vem da periferia

Esta semana devorei um livro lançado pela Editora Aeroplano, da Heloisa Buarque de Holanda. "COOPERIFA - Antropofagia Periférica" conta a história do nascimento desse espaço poético - literalmente - criado no meio da periferia de São Paulo, muito além das pontes do Socorro e João Dias, do lado de lá do rio, onde os do lado de cá mal sabem como chegar ou como agir.

No bar do Zé Batidão, Sérgio Vaz e sua legião de guerreiros e guerreiras construíram uma das cenas culturais mais improváveis da grande metrópole da américa latina. Sampa ferve de dia e de noite, não pára mesmo, mas é um mosaico formado por vários pedaços, de tal maneira que não é difícil encontrarmos pessoas que nasceram na cidade, cresceram em seus bairros e não conhecem quase nada além do seu entorno e, vez por outra, do Centro, também chamado de "cidade". Se dizem que os botecos são um foco de problemas nas periferias, é também dentro deles que acontece a socialização de parcela mais do que significante de nossas comunidades, e foi a partir dele e dentro dele que nasceu a COOPERIFA, inicialmente em Taboão da Serra, no Garajão, e já há muito tempo no Zé Batidão.

Você consegue imaginar uma média de 200 pessoas se reunindo às 20h de todas as quartas-feiras, faça chuva ou calor, para...falar poesia? Então imagine, porque é isso que acontece no bar do Zé Batidão, e eu, depois que terminei de ler o livro, fiquei empolgadíssimo para ver isso ao vivo. Contrariando todas as previsões, é a palavra a principal arma lá utilizada, e foi ela que fez com que muitos descobrissem o talento que tanto o sistema desigual insiste em esconder e não desenvolver. Quem foi que decretou que poesia só é construída nos salões nobres? Quem disse que só pessoas tidas como "preparadas" podem se aventurar na bela junção de palavras, vida e sentimento? Quem determinou que esses homens, mulheres e jovens não têm o que nos contar? Pois não dando bola para isso, de peito aberto e criatividade ímpar, os membros da COOPERIFA foram para cima e são eles que ocupam essa fita e montaram essa trincheira poética.

Ler sua história já é poesia, ver o seu crescimento é pura emoção, representada no lançamento de balões que, cheios de gás e poesia construída por seus frequentadores, se lançaram na noite e foram pousar em quintais e corações alheios a tanta coisa. Vale a leitura deste livro para ver como há muito o que fazer e o quanto já está sendo feito. Vale também a leitura de livros já lançados de seus membros, como Sérgio Vaz, Dinha, Sacolinha, Alan Rosa e tantos outros, disponíveis na coleção "Literatura Periférica", da Global Editora (Luiz Alves sempre atento ao que há de melhor nesse país. Parabéns!), vale um momento de cada um de nós para a poesia da vida, tão presente nas palavras dos bravos integrantes desse movimento.

É isso! São eles os caras de verdade, os que sabem que "a arte que liberta não vem da mão que escraviza", por isso tomam a frente, cerram as mãos para escrever seus poemas e seguem com o seu lema: "Por uma periferia que nos une pelo amor, pela cor e pela dor". Todos temos muito o que aprender com eles e com o que existe em torno dos grandes centros, celeiros de talentos, de beleza, de poesia e de escritores que têm muito o que nos contar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Além do Bojador

O cheiro de mar entra pela sala, é o vento que me traz, o mesmo vento que aguarda o abrir das velas para seguir. Tenho um "Bojador" pela frente. Na bagagem levo arruda e entrego a São Jorge a função de timoneiro dos diversos amanhãs que me aguardam.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Círio, uma experiência de fé...no amanhã.

É madrugada. Deixo a Taberna São Jorge, em Belém do Pará, e sigo para o aeroporto, onde pegarei o avião que me levará de volta ao Rio.
Mais um Círio vivido naquela cidade, o de número 217, muito mais do que os meus 38 anos de vida. Como sempre, impressionante, como de costume, um colosso; dois milhões de pessoas no trajeto da procissão que homenageia a padroeira dos paraenses, Nossa Senhora de Nazaré, ou "Naza", "Nazica", "Nazarezinha", para os íntimos romeiros pagadores de promessa. Realmente a fé de um povo inteiro, o momento Ramadã dos nascidos ali, que sempre voltam no segundo domingo de outubro, produzindo um dos maiores eventos religiosos que se tem notícia. Não é exagero dizer que só indo ao Círio para entender e sentir o que acontece naquele lugar; a presença de algo maior é sentido quando a imagem passa na berlinda lindamente enfeitada, e para quem vai além das religiões e compreende o Altivo como energia coletiva e em movimento, aquele é um bom exemplo de receptor e irradiador de energia, um legítimo hub de fé e positividade.

Quisera eu que esse capital social todo mobilizado em outubro durasse durante o ano inteiro, que toda a logística e mobilização conjunta realizada em torno do Círio fossem utilizadas também para reduzir a quantidade de pessoas que me disseram que de lá queriam sair, que funcionasse para produzir durante todo o ano a reverberação daquela esperança vista e sentida nas orações de senhoras simples, no caminhar descalço do senhor com o filho nos ombros, na alegria de uma família junta em torno de uma mesa. Belém dá ensinamento a muitos lugares sem saber ainda como se beneficiar disso. Na cidade do "já teve" existe um potencial gigantesco por natureza - como anuncia o hino nacional -, mas ainda adormecido em um berço não mais tão esplêndido. Jovens ainda estão sem a oportunidade merecida, a sensação de insegurança é espantosa, o trânsito confuso da grande metrópole fica ainda mais confuso com asfaltamentos e obras fora de hora ou sem planejamento, enfim, os dilemas de muitas outras cidades Brasil afora.

Porém, devo dizer que deixei Belém pensando na força impressionante que aquela cidade tem em mobilizar um número de pessoas em quantidade como aquela, de forma ordeira, pacífica, positiva e proativa. Repito: de acordo com os dados oficiais, eram cerca de dois milhões de pessoas na procissão, em uma cidade que tem em torno de um milhão e meio de habitantes. É muita coisa! E, pessoa que vai longe nos pensamentos que sou, fiquei "viajando" no efeito que causaria uma "Diretoria da Festa" organizada para além dela, pensando a cidade de forma sistemática, holística, como gostam de pregar os gurus da gestão moderna, ampliando suas potencialidades, criando ambientes de desenvolvimento coletivo e de convivência, permitindo aos seus jovens uma convivência para o crescimento conjunto do intelecto, das oportunidades e do espírito.

Belém, aquela cidade portal da Amazônia, ainda tem muito do seu charme em pé, da beleza gentil dos seus habitantes, da possibilidade de se levantar e ir além do "já teve", construindo no hoje o seu futuro. Passado que lhe dê lastro para isso existe, resta agora um olhar (dos céus?) para que suas velas sejam lançadas ao vento do amanhã com a dignidade morena do povo do Pará.

Vejo o Rio de Janeiro pela janela. Em breve pouso.

Viva Nossa Senhora de Nazaré!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Livros, leituras e desenvolvimento

Há poucos dias terminou a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a maior feira literária do país, com três pavilhões gigantes no Rio Centro ocupados por editoras, livrarias, espaços interativos promovendo diálogos em torno da leitura, sessões de autógrafos, encontros, enfim, uma festa, literalmente. Nela o destaque foi uma floresta de livros, com labirintos de palavras que empolgavam a garotada, presentes seja nas visitas de escolas, como levados em passeio pelos pais que já vêem na leitura uma atitude que abre horizontes.

Em um dos momentos de descanso, vendo aquele
mundaréu de gente para lá e para cá, pensei neles, nos novos leitores, em como é importante um evento desse e como esse encontro da criança com o livro de maneira lúdica permite a perenidade dessa relação. Mas, quando os pais sofrem dessa ausência de gosto pela leitura - seja por descuido dos avós não leitores ou pela escola que não conseguiu furar esse bloqueio - como é que a gente faz isso? Eu fiquei lá em meus devaneios, um pouco como mulher grávida que vê bebê em todo o canto, e continuei meu passeio, e no meio dele dei de cara com um estande imenso do governo do Rio Grande do Sul que convidava para conhecer as editoras gaúchas; contei, e eram mais de dez. Aquele estado do Brasil tem mais de dez editoras produzindo, fazendo livros e contando as histórias e estórias, teses e viagens do povo gaúcho. Ali, naquele momento, me deu vontade de procurar um estande de meu estado, mas achei que o Pará estaria ainda muito longe das capitais, como já cantou os Engenheiros do Hawai.

Hoje leio o blog do Galeno Amorim e fiquei feliz por ver que o Ceará realizou uma reunião na Assembléia Legislativa daquele estado, reunindo todos os integrantes da cadeia do livro de lá, para que juntos encontrem um caminho para estimular o aumento da leitura entre seus habitantes. Além disso, o governo federal criou e lançou plano de incentivo à leitura, bem como alguns governos estaduais e municipais. O Fundo de Incentivo à Leitura finalmente sairá do papel após acordo entre os livreiros e o Ministério da Cultura, e isso já vem há alguns anos para ser fechado, desde quando o Brasil isentou as editoras de pagamento de impostos sobre o livro. Algo em torno de 9% a 11%.

Isso tudo chama atenção para uma coisa: ler é bom sim, nos faz viajar por lugares nunca conhecidos, compartilhar ideias com outras pessoas, ver belas ilustrações e tudo o mais, porém, acima de tudo, ler promove um desenvolvimento mais justo, e isso está mais do que provado em pesquisas do IPEA e outras tantas mais, e o Brasil é um país que tem uma população gigante, adormecida ainda para as letras, e nem estou falando aqui da quantidade de analfabetos que absurdamente ainda temos. Não foi à toa que o grupo Record, o maior grupo literário do Brasil, detentor de mais de 11 selos editoriais, anunciou que investirá dez milhões de reais para produção de dez milhões de livros em 2011, dobrando sua produção e focando não nas classes A e B, mas na classe C, que, nas palavras de Luciana Villas Boas, editora geral da Record, "já percebeu a importância da leitura bem antes de adquirir esse hábito".

As iniciativas de incentivo à leitura que estamos vendo são o início de um processo de mudança importantíssimo no país. Silenciosamente, veremos em breve uma relação direta entre o aumento da quantidade de livros lidos e a redução de índices indesejáveis como violência e pobreza. Um indivíduo, uma cidade, um estado, um país, se formam assim, e aos estados que ainda não iniciaram suas conversas e seus encontros, como o Ceará, que segue atento o curso da história, se posicionando como protagonista na construção de políticas públicas nessa direção, tratem de aprender, de entender que esse será um caminho sem volta, e todos só temos a ganhar. A Colômbia está aí para nos provar isso.

Sento para escrever este texto e me lembro novamente do estande gaúcho, e ainda me vem à cabeça a pergunta: quantas editoras o meu estado tem? Quantas editoras o seu estado tem? E quando é que vamos nos movimentar para fazer com que os demais cidadãos, além de nós, leiam mais e aprendam a conviver em paz e com o desenvolvimento merecido?

A resposta a isso está em nossas ações, em nossa crença e em nossas cobranças pelo estabelecimento de políticas que fomentem a criação de uma geração de leitores. Mãos à obra, e boa leitura dos livros e do mundo!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um ano doce para todos nós

Na próxima sexta (18/09), será o ano novo judaico. Segundo o calendário dessa religião, entraremos no ano 5770, e o Rosh Hashaná (que significa cabeça do ano) é comemorado comendo maçã com mel, para que o ano seja doce. É nesse momento que se inicia um processo de introspecção e meditação sobre o ano que se passou, culminando no Yom Kipur, o dia do perdão, onde Deus decidirá quem será escrito no Livro da Vida para o ano que se inicia.

As tradições guardam o ensinamento dos povos, que, por sua vez, constituem o mapa maior do ensinamento da humanidade, com a junção dos ensinamentos de tantas outras religiões e povos.

Compartilho aqui a mensagem que escrevi para meus dois filhos menores, João e Antônio, celebrando esse ano que também inicia para eles, e desejo a todos um ano novo doce e feliz como o sorriso dos dois:


Um novo ano inicia a cada velho ano que passa, seguindo a roda infinita da vida. Na cabeça desse ano encontramos uma caixa de várias coisas para ajudar na nossa reflexão, que é aquela chavinha dentro da nossa cabeça e que nos ajuda a pensar no que é certo e no que é errado. Essa caixa tem de tudo: esperança, sonhos, amor, fé, perdão, risadas, tudo o que pode ajudar para que sejamos sempre lembrados não somente no Livro da Vida do Criador, mas também no livro da vida de todos aqueles que, como nós, buscam sempre seguir a eterna trilha da vida querendo dignidade, respeito e oportunidade para todos. Um ano novo doce para vocês, como o açúcar e como esse amor que só cresce dentro deste peito de pai.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Rosa Menina

É uma rosa menina banhada com a luz da lua cheia, mas tem espinhos. Brota suave da cabeleira verde do vaso, e o branco prata deixa a varanda da rede em outra dimensão...talvez pela música que o vento me traz. Do outro lado da rua, um clarinete toca Carinhoso muito bem, e a vida ganha trilha sonora nessa cena de noite carioca.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Primavera Verão

O inverno foi intenso, é verdade. Deu para tirarmos os casacos dos armários e tivemos tempo suficiente para usá-los em diversos formatos, desfilando tendências de outros campos e paragens, sem perder o estilo natural que as ruas da cidade de mar sempre invocam, mas, a julgar pelo calor dos primeiros dias de setembro, que já faz com que as orquídeas comecem a brotar nas árvores, a primavera não só será intensa e colorida, como será uma, digamos, amiga íntima do verão. O Rio inteiro ferve, e todos e todas já se livram do cheiro de guardado dos armários para dourar a pele.

Ipanema, essa praia grávida de conceito, estilo e bom humor, anuncia, do alto de seu clássico Posto 9, que o verão será, assim como o outono, o inverno e a primavera, digno de grandes recordações, e a julgar pela quantidade de óculos Ray Ban de acetato, o colorido está garantido. Bote suas Havaianas, conte com a simpatia e com a caipirosca de lima do Batista, o delicioso e inigualável sucolé do Claudinho, descole um bom livro, e se prepare para curtir um dos melhores verões que já se anuncia.

Eu já estou atento, e o baldinho das crianças já está no pacote.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Gripe Suína na Liberdade

Foto: Edney Martins

Na noite da última sexta (21/08) fiz uma visita forçada à emergência do hospital Copa D'or, no Rio de Janeiro. Pesava sobre mim uma tonelada de dor, febre, incômodo, inflamação, a sensação de quase aquela música inteira de enfermidades cantada pelos Titãs, e, claro, o "pânico" da vez: a possibilidade de ter a tal PANDEMIA SUÍNA anunciada.

É bom que se esclareça que sou dos que acreditam que as providências estão sendo tomadas e que esse negócio de pandemia é um grande exageiro, mas depois que o Jornal Nacional iniciou com o William Bonner dizendo diretamente para mim - foi para mim, não foi? - que mais quatro pessoas haviam morrido da tal gripe naquele dia, achei por bem acionar minha categoria de cidadão e ligar para o Disk Gripe (certamente primo dos
trocentos "Disques" que nasceram nessa modernidade), e iniciar a conversa que se concluiu com a indicação para buscar um hospital, diante de minhas respostas positivas a todas as perguntas do protocolo montado pelo Ministério da Saúde.
Justificar
Como todo bom exemplar do gênero masculino, pensei: estarei eu caminhando para o meu fim? E seria ele assim suíno por meu signo chinês ser Javali, que sempre foi um porco disfarçado? E com essa profundidade de reflexão, que bem podia ser fruto da febre que já ia nas alturas, fui com minha identidade impressa e o cartão do plano de saúde nas mãos, e debaixo de uma chuva cão que resolveu cair na cidade. Já na emergência do hospital, a espera pouca no atendimento não me permitiu fazer contato mais próximo que o simples boa noite com os demais que lá estavam àquela altura, e isso ficou totalmente impossível após meu retorno do primeiro atendimento, já com a máscara que o enfermeiro me enfiou na cara após medir pressão, temperatura, e colocar também nele a máscara que lhe garantia a segurança (devo dizer que é impressionante a clareira que fica em torno de uma pessoa com máscara; segundo um colega, ela é muito útil como ferramenta para conseguir lugar para sentar nos transportes públicos). Absorto naquela solidão que o preconceito me causou, vi o Bonner dizendo o clássico boa noite e pensei: para ti talvez, meu caro, mas aqui parece que a coisa vai loooonge.

Dois vidrinhos de sangue depois, retirados para os exames que o médico (de máscaras e mãos bem lavadas) pediu, fui vendo na TV da sala de espera as aventuras de Opash entre
are babas, tics, mamadis e todo esse mundo de palavras e entusiasmadas quebradinhas de pescoço indianas da novela de Glória Perez. Ali, sozinho e com a clareira em volta de mim, comecei a pensar no monte de coisas que tinha para fazer e nos e-mails que recebi, e lembrei que entre eles tinha um que trazia a história de uma pessoa que respeito muito, o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto. Para quem ainda não o conhece, está aí um bom momento de encontro com o que há de cidadania em todos nós.

Lúcio é um JORNALISTA, assim mesmo, com todas as letras maiúsculas. Aluno que fui do NPI, a escola de aplicação da Universidade Federal do Pará, tive a sorte de participar de um encontro com ele na escola, onde ele falou sobre eclusas (já ouviu falar disso?) com uma didática impressionante, a ponto de dar a mim e a todos os que ali estavam, a dimensão do que é Amazônia, do nosso espaço, sem que saíssemos daquele auditório. Um cara fantástico, coerente com suas opiniões e editor do Jornal Pessoal, um jornal que, de tão essencial, não pode ser chamado de alternativo. Ele é sim fundamental a uma sociedade que busque a reflexão para o seu entendimento, a compreensão do passado, esse insumo fundamental para o encontro e a conversa que vise uma construção conjunta e justa de futuro.

Fui pensando isso entre tosse, febre alta (seria por isso?) e uma ida a radiografia que o Dr. Pedro solicitou em meu prontuário. Curioso como ali naquela nova cidade eu me via lembrando da minha cidade natal e tinha a história de Lúcio como meu elemento de ligação, mas o fato de que uma pessoa como essa estivesse vivendo um dos casos mais Kafkianos da imprensa nacional era fermento desse pensar. Lúcio foi condenado por um juiz de Belém a indenizar dois empresários proprietários do maior grupo de comunicação do Norte do Brasil, o grupo "O Liberal", e a sentença - se é que aquilo assim pode ser chamado - deveria ser utilizada nos inúmeros cursos de magistratura para ensinar como NÃO ser um magistrado, como macular uma carreira, se é que esse senhor pretendeu de fato formar uma algum dia.

A condenação de Lúcio Flávio e o seu aprisionamento na cidade de Belém em razão das dezenas de ações movidas contra ele pelos proprietários do "O Liberal" é um acinte não a uma cidade, mas a princípios básicos de cada um de nós, sejamos moradores de Belém, do Rio, de São Paulo, do Chuí, do Oiapoque, de todos os cantos onde as palavras democracia e liberdade façam algum sentido. Não estou falando de um jornalista que trata a notícia de maneira cretina, falo de um profissional que é base de estudo de qualquer trabalho sério sobre a Amazônia, seja no seu âmbito econômico, social, cultural, ambiental, humano ou político, e o seu caso, que já é de domínio de todos de lá e de além mar, mostra o quanto o Pará se encontra hoje em um momento de pior nível de capital social. A perseguição a Lúcio expõe uma sociedade e a reação a ela demonstra que ainda há muito o que fazer, porque cercear isso é permitir que exista uma única verdade, um único olhar, uma opinião que não traz em si a isenção de conceder a uma sociedade um amplo grau de informação, e isso asfixia, seca, mata muito mais do que palavras; vai no campo fértil dos sonhos e atinge de maneira mortal o sentido da liberdade.

Ali, naquele hospital em noite de sexta chuvosa em Copacabana, entre máscara, agulhas, radiografias,
are babas e tudo o mais, rezei. Rezei por Lúcio, por Belém, por meus filhos, por todos os que antes de nós aqui estiveram, por todos os que aqui pereceram em nome da verdade, da liberdade e da justiça, essa que não é do juiz Raimundo das Chagas, posto que não a compreende. Rezei para que mais pessoas soubessem disso e para que não ouvisse o Bonner dizendo qualquer dia desses: "Mais um caso de assassinato da liberdade no Pará".

Que a gripe suína do absurdo passe longe de nossas aldeias, de nossos lares, de nosso caminhar. Toda minha solidariedade a Lúcio e ao que ele representa.

Para quem quiser saber mais, aí vai o blog: http://solidariedadelucioflaviopinto.blogspot.com

By the way, não estou com gripe suína.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Da lavra de Marina, da Silva, do Mundo, do Meio e do Ambiente

Inverno no Arpoador (Foto: Edney Martins)

"Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos."
(Trecho da carta encaminhada pela senadora Marina Silva ao presidente do Partido dos Trabalhadores, onde comunicava sua decisão de deixar o partido)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A lâmina da palavra


"Tua ida para 'Shangrilá' deveria ser para melhorar tua vida, mas, pelo visto...". As palavras saltaram do telefone e o pegaram desprevenido, só sentiu o frio no estômago e uma dor fina na trajetória imaginária que aquela suposta bala (perdida?) fez no seu corpo. Ele se deu conta de que a vida fez com que ela esquecesse como suas palavras sempre lhe deram alento nos momentos complicados, esses que normalmente se apresentam diante das principais encruzilhadas da vida. Os tempos eram outros, a trilha diferente e o sonho que o guiou foi o antônimo da praticidade que a formou, como acontece em famílias e relações diversas, sejam elas boas ou não.

O poder da palavra pode calar como cala um soco no estômago, ainda mais em dias de festa. Essa arma mal empregada pode condenar inocentes ou salvar pessoas vis, cria o improvável, estabelece realidades e faz estremecer princípios, e o mais interessante é que não são todos os que carregam essa consciência, por isso, às vezes sem saber, sem a consciência que possuem em outros momentos, retalham a realidade na frente de quem já está de joelhos diante dela e da impossibilidade de sua alteração.

Os sonhos, esses grandes padrinhos dos navegadores, aqueles que, como lembrou Pessoa, tiveram a coragem de ir "além do Bojador" na construção de novas realidades, têm uma relação direta com a criança que mora dentro de cada um; ela é a responsável por assoprar a brasa da fogueira da possibilidade, de espantar para longe as nuvens que teimam em esconder o sol quando ele é tão necessário, de saltar no mar sentindo o frescor do novo, da nova água - sempre em movimento - do sal da vida. É no coração dessa criança a sua morada, e é a condução dessa vida que fará com que o nascer do sol tenha visões distintas, valores diversos, permissões expandidas ou não.

Para ele, a dor daquele momento era a dor do crescimento, de sentir e ver o adulto ali, tomando conta e se apresentando a partir da realidade e da necessidade que se apresentou. Sonhar realmente custa assim tão caro? O quão caro é o sonho de cada um? Quão distante é a estrada que nos separa disso? Qual o tamanho de nossa incompreensão de fato e quanto podemos colocar o dedo na ferida daqueles que ainda não conseguiram o que achamos 'adequado'? Essas são questões da modernidade ou da humanidade? De agora ou de sempre? Não importa! O que importa é que devemos nos dar conta da força das palavras e da diversidade que temos no mundo. O que é bom para mim, pode não ser para o outro; o que é sonho para o outro, pode ser uma grande bobagem para mim, mas isso não autoriza o não cuidado, a palavra seca, a dor provocada, mesmo que sem intenção. A vida passa e faz com que fiquemos, de maneira e intensidade diversas, diferentes na praticidade com que a levamos, e isso não permite que abandonemos a tolerência para fazer com a nossa terra uma lama da água turva de um.

No momento de angústia, estender as mãos a alguém que discordamos é um ato de humanidade, a mesma que nos gerou e que ajudamos a construir. A mesma santificada em oração:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Poesia do Encontro

Martha Medeiros com os alunos da Casa Poema (Foto: Edney Martins)

No último sábado, dia 01 de agosto, aconteceu o primeiro "Poesia do Encontro" na Casa Poema (www.casapoema.com.br), espaço cultural criado pela atriz e poeta Elisa Lucinda, no Rio de Janeiro. Dizer que foi uma tarde poética seria redundante, já que o nome da casa já anuncia essa possibilidade, mas assim ela foi, uma tarde única, especial e emocionante no momento em que os alunos da Escola Lucinda de Poesia Viva - que tem sua sede naquele espaço cultural - brindaram os presentes com as poesias de Martha Medeiros sendo ditas com a coloquialidade que lhes atribuiu a vida com que foram pousadas no papel.

Foi na segunda parte do encontro, quando Martha e Elisa conversaram entre si e com a platéia lotada e ainda mais bela com a presença de Beth Carvalho e Regina Duarte na primeira fila, que a emoção tomou conta de todos. Martha disse como estava feliz com aquele dia e com o trabalho mostrado pelos alunos, e que se sentia inspirada a escrever mais poesias, prometendo que o lançamento de seu próximo livro, no ano que vem, será na Casa Poema.

Ali, naquela tarde que seguiu com a sessão de autógrafos da convidada, a Casa Poema demonstra que o espaço da poesia, da escrita, da palavra, do encontro do autor/escritor/poeta com o público, aquele que o lê e que o tem em sua imaginação, está garantido e pode ser sim novidade, alento e alegria, um belo encontro de tarde entre amigos que há muito não se veem...e ouvem, um belo momento de mostrar que a poesia está muito viva e reunindo vários em torno dela, e a casa lotada disse isso.

Programado para acontecer mensalmente, a tarde de sábado deixou gostinho de quero mais, de brigadeiro no aniversário de infância e todos já estão animados para setembro, quando Ferreira Gullar trará seu açúcar, seu rosto, seu olhar, seu sorriso, sua poesia e toda a beleza da junção de suas palavras para a Casa Poema.

Eu não vou perder e estarei lá. Se não conseguires ir, depois te conto aqui.

Ah! Para quem quiser ler as impressões de Martha Medeiros sobre o evento, vale uma visita no site dela. O endereço? Aí vai: www.clicrbs.com.br/marthamedeiros

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dia de amigo(a)

Foto: Edney Martins

Esta semana recebi várias mensagens fazendo referência ao dia do amigo, comemorado no dia 20 de julho. Há tempos soube dessa data, mas somente neste ano de 2009 vi um movimento grande em torno do tema, talvez pela necessidade do mercado se manter(?) aquecido, ou talvez pelo fato de ele, o mercado, não estar mais aquecido, é que esse tipo de lembrança em torno do sentido da amizade ganha força...não sei bem ao certo. Fato é que recebi várias mensagens, e vi que os que me mandaram também receberam outras, formando essa rede de amizade em torno da data.

Não respondi a todos(as), mas recebi o carinho e fiquei feliz com essa lembrança na lista de tanta gente. Não foi possível dar o abraço gostoso que gostaria de dar em cada um e nem consegui beber um bom café jogando conversa fora, lembrando de bons momentos e planejando viagens para a construção de outros ainda mais bacanas; nada disso foi possível, por isso vim aqui, de maneira simples, deixar um super abraço e um beijo carinhoso por quem passar aqui no blog, porque, amigo que é amigo dá sempre uma olhada no que o amigo está escrevendo. rsrsrsrsrs

As flores da foto colhi com uma máquina em um evento no interior de Pernambuco. Formavam o vaso colocado em meio a uma dinâmica do Instituto Fonte. Achei lindo e especial o cuidado de brindar os presentes com algo tão belo, por isso trago para compartilhar com vocês.

domingo, 19 de julho de 2009

Meninos

Foto: Edney Martins

Minha vinda para o Rio tem a ver com meninos, os meus meninos.

Essa semana passou rápida, voando como as nuvens que passearam no céu e brincaram de pique esconde com o sol. Hoje, domingo, caminhei pelo calçadão na companhia de Jorge e Suely, os tios de plantão, Marina, a prima com cara de infância, Cláudia, a companheira, João e Antônio, elementos vida dentro dos frascos mais belos, e Rafael, o mais velho dentro do meu coração de pai e de homem, e que a ausência física ganha nome de saudade.

Graças à insistência de Jorge e Suely, fomos ao parque da Chacrinha, perto da antiga casa deles, um recanto no meio de Copacabana onde os saguis passeiam pelas árvores e nos brindam com o espetáculo que é ver um animal livre, leve e solto na natureza. Naquele momento não eram eles somente que estavam soltos, nós também estávamos, e brincamos achando olhos de boi no meio do mato e um abraço gostoso de Antônio aqueceu a tarde com vento frio - e até agora eu ainda o sinto.

No meio dos sempre altos e baixos que o eletrocardiograma da vida nos recebe, e que sempre nos faz pensar se seguimos os caminhos certos - como aquelas trilhas que nunca sabemos bem aonde nos levarão, até que as façamos - a tarde me deu reflexão e tranquilidade de lembrar o que me trouxe para cá. Aqui pretendo encontrar e ter meus meninos todos juntos, a possibilidade como presente, um novo e diferente olhar como embrulho colorido e fechado com a fita do sonho, pronto para ser aberto, pronto para ser brindado, pronto para ser vivido, pronto para nascer.

No encontro dos meus meninos, me descrubo e (re)encontro os que vivem dentro de mim, formadores desse ser a que chamam de pai e que pode defrutar da alegria de se saber presente na vida desses novos homens que nascem. Vendo o vídeo simples feito na praia, com imagem esmaecida pelo tempo, me vi neles e em mim, e o tempo, por um breve segundo, não teve passado, presente nem futuro, somente o infinito sentido do amor que o laço da vida nos dá.

Rio, inverno de julho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Encontro na chuva

Foto: Walda Marques

A foto acima é de um momento de Belém do Pará, minha cidade natal, e ao fundo podemos ver,tímido, o pórtico de entrada para o Forte do Castelo, onde nasceu aquela bela e surpreendente cidade, mas também poderia ser um portal, desses que desobedecem o tempo e lugar, ligando neste momento minhas duas cidades nessa tarde de chuva de inverno no Rio de Janeiro. Ambas, mágicas que são, têm a água, esse elemento celular e fundamental, como grande mobilizador. A segunda com a água como grande companheira, a primeira com ela como algo sempre presente, mas nem sempre aberta aos nossos olhos.

A imagem de Walda Marques nos traz essa sinergia, essa ligação entre lugares, sensações e almas que encontram nos momentos de chuva um momento de (re)encontro e prazer no contato conosco e com o outro.

Sigo ouvindo o barulho dos pingos no telhado e o aroma de minhas ervas levando minhas orações aos deuses do firmamento e do amanhã.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Caeirinho e a Carta da Terra

Acabo de ler a peça infanto-juvenil "Caeirinho e a Carta da Terra", escrita por Geovana Pires e feito com inspiração total na obra de Fernando Pessoa, sendo, portanto, guardião de rebanhos de belas cenas. Falando sobre as questões contemporâneas para um público que não está sendo trabalhado na questão da sustentabilidade - salvo alguns casos -, que são as crianças e jovens, Geovana faz "Pessoinha" entrar em seu "Wíndios Tchuptchura" e encontrar um outro personagem da peça, baseado no mais famoso heterônimo do mestre Fernando Pessoa, e também tido como mestre de todos eles, que é Alberto Caeiro, que na peça é o "Caeirinho", menino de 10 anos que, junto com seu amigo "Árvore de Campos", ajudam "Pessoinha" a encontrar a "Mãe Natureza" e o "Índio Pôr do Sol", para juntos seguirem até o ano 2009, a fim de impedir o quadro de devastação que encontram no futuro, e tudo isso viajando no tempo com efeitos de gelo seco e muita criatividade.

Todos os atores envolvidos são jovens e donos de trajetórias consistentes nos teatros e nos espaços passíveis de uma encenação teatral, como a rua, por exemplo, não sendo coincidência o fato de alguns deles terem passado pelo histórico grupo "Tá na Rua", o que significa terem passado também pelo talento e resistência do grande mestre Amir Hadad.

Caeirinho veio para ficar e ir além dos palcos. Não me espanto de vê-lo um dia visitando seu primo Chico Bento e aproveitando para bater um papo com toda aquela turma de Cebolinha, Mônica, Cascão & Cia, e o seu mar de navegação parece ser a internet, onde seguirá surfando nas ondas do bom texto, da bela poesia e dos grandes nomes como Fernando Pessoa. Quando estiver em algum lugar perto de vocês, seja na tua cidade ou na cidade de outros, não deixe de assistir, porque vale a pena, especialmente para os pais que estão ávidos por mostrar cada vez mais arte de qualidade para seus filhos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Paleta

O inverno não pareceria ter chegado, não fosse a ausência do calor dela na cama de edredon montada.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Saldo Positivo

Foto: Edney Martins - Sto Antônio do Tauá/PA

No último sábado estive com um grupo de pessoas, todas amigas de Carlos Obed, o Caco, na praia do Arpoador, no Rio. Na tarde fria nos reunimos para uma última homenagem a ele, que nos deixou abruptamente aos 37 anos, vitimado por um câncer extremamente agressivo. Lá jogamos suas cinzas e vimos sua volta ao pó e ao mar, fechando o ciclo de vida que muitos dizem não se encerrar aqui, "nesta dimensão".

Depois de jogar algumas flores e uma porção de cinzas no mar gelado, parei para uma oração e uma reflexão. Sempre havia a possibilidade de nos encontrarmos aqui, mas nunca dava, e fomos nos encontrar ali, depois de tantos anos, daquela forma, e o fato de Caco ter a minha idade me fez pensar na vida e na forma com que a levamos, com as escolhas que tomamos, com as formas que tratamos o outro e a própria forma com que lidamos com todo o universo à nossa volta e também o que está naquela outra "dimensão".

Não tem receita para a vida, há dicas, a possibilidade de intuirmos caminhos a partir de valores previamente cultivados ou criados a partir da experiência diante do novo a que nos propomos viver. Estamos, constantemente, mesmo sem percebermos, no processo de contabilizarmos nossas atitudes e a forma com que lidamos com todo esse emaranhado que vamos construindo no dia-a-dia. Olhando para o mar e sentindo o vento frio do Arpoador naquela tarde de outono carioca, ao ver a diversidade e a quantidade de pessoas que ali foram fazer a homenagem ao Caco, aprendi mais uma lição com aquele amigo que tinha a alegria como fiel companheira, aprendi a atentar para o fato de que nenhum de nós sabe quando será o final da caminhada, por isso é importante mantermos uma conduta que permita um saldo positivo no balanço final dessa estrada chamada vida.

Aprendi e vim aqui contar para vocês, como menino que descobre como dar laço no fio do sapato, como menino que descobre que sabe fazer estrela, como menino que sabe que um amigo foi, mas com o saldo mais do que positivo, depositado em cada um de nós.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Parem de Falar Mal da Rotina

Foto: Dalton Valério

"Sou da época em que peça que faz sucesso ficava em cartaz". Foi com essa frase que o diretor do teatro SESI Centro, Colmar Diniz, convidou Elisa Lucinda a seguir em cartaz com sua peça Parem de Falar Mal da Rotina naquela casa que tem seus 350 lugares lotados nos finais de semana.

Com sete anos em cartaz em diversas cidades brasileiras, essa peça é, nas palavras de Nélida Piñon, "um acontecimento da escola de Cervantes", pois nos possibilita o luxo de ver e rir de nosso ridículo, do cotidiano e alegria de nossas vidas, por nos possibilitar estar no palco com Elisa Lucinda, por nos lembrar de nossos passos - dados ou exitados -, da importância do dizer eu te amo para a pessoa amada, do olhar carinhoso e atento ao filho que descobre o mundo, dos mundos guardados dentro das páginas de um livro, do sabor delicioso da poesia banhado com a calda da vida que o cotidiano nos dá, e talvez aí esteja a motivação que faz com que a platéia - sempre fiel - volte diversas vezes, seja solitariamente, como aquele que disse que vinha sempre aos domingos por ter o espetáculo como uma missa, seja na companhia de um amor, de um amigo, aproveitando o deleite de ver o efeito do transcorrer da peça naquela pessoa, seja porque ele, o espetáculo, assim como a vida, nunca se repete, sempre tem alguma coisa nova para surpreender e apreender.

Se a diversidade é um grande valor da sociedade contemporânea, ela é rainha no centro do Rio de Janeiro aos finais de semana. São pessoas vindas de todos os bairros e regiões da cidade, da Tijuca, do Méier, da Penha, de Copacabana, da Barra, de outros municípios, como Nova Iguaçú, Niterói, São João do Meriti, e até quatro vezes de São José do Rio Preto, 900 km de distância do Rio. Todas elas talvz atraídas pela curiosidade de entender a emoção dos que já viram a peça, ou pela possibilidade de vivenciar, nas suas duas horas e meia de duração - com quinze minutos de intervalo - a magia do teatro, pois Elisa Lucinda toma o palco e, com doação plena, conduz todos pela comédia que leva a platéia de amplas gargalhadas ao profundo drama, com reflexão sobre os dilemas e males contemporâneos.

Não é só um espetáculo com poesia, não é um programa de auditório, não é uma comédia, não é um teatro clássico, não é auto ajuda, não é um show de música, mas sim tudo junto, todas as partes do diverso que a vida tem, toda a diversidade de olhares presente no encontro, trazendo para o dia a dia um cotidiano poético, e com preocupação, com compromisso social, com o compartilhamento de caminhos e possibilidades, como a sugestão de leitura de um livro, de uma boa matéria publicada em uma revista, a "campanha" pela adoção intelectual de uma criança ou jovem, e assim Elisa Lucinda vai criando uma relação de cumplicidade com a platéia, que, ao ouvir seus poemas pontuados no decorrer do espetáculo, e, ao reconhecer-se nos inúmeros personagens expostos nas cenas, se livram do ranço de achar que poesia é algo somente para intelectuais empolados e descobrem que ela está presente no café da manhã, no pão quentinho, no filho com uniforme do colégio, em um belo amanhecer, que todo dia vem brindando a nova e constante possibilidade de recomeço.

Ao final, a rotina de cada um dos espectadores está ali na frente, sendo apresentada, sendo debatido, para que, em se desejando, não seja um fardo, não seja um pesar, mas a "burilação eterna" e um brinde à vida inédita que temos pela frente como protagonistas de nossa própria existência.

Para quem ainda não viu, vale uma ida ao centro - da cidade e de si mesmo. E a peça Parem de Falar Mal da Rotina fica em cartaz até agosto...do público.

Rio, outono deslumbrante de 2009.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Prateleira do desejo

Passeio no centro do Rio de Janeiro sentindo o vento do Arpoador na fronte, o sabor da fêmea dela nos lábios e uma estrada de tijolos amarelos nos sonhos que tenho. As matas de Oxóssi que vi por uma janela ficam mais distantes, mas o mar de Yemanjá batendo nas pedras do senhor da justiça ficará a poucos passos, esses do caminho que espero iniciar agora, no café da travessa prateleira do meu desejo.

A ventania das letras

Foi na Rua do Ouvidor que o vento - e o Rodrigo - plantaram a Folha Seca, livraria e editora que mantém o charme das duas coisas com excelentes títulos e um ótimo atendimento. Lá ganhei um mapa com as livrarias do Centro e achei um lindo livro sobre o jongo no Vale do Paraíba, que vem com CD e letra para conhecermos e vivenciarmos essa delícia do Brasil.

A Folha Seca tem títulos ótimos e trata a criação do livro com um processo especial, e isso está evidente quando olhamos o resultado. Assim como ela, outras novas editoras vêm surgindo, como a Réptil, Casa da Palavra, Capivara e por aí vai, e é nesse nascedouro que a editora Casa Poema está, para se unir a essa rede de amantes do livro e das palavras.

Confeitaria Colombo

Tudo bem, sei que falar maravilhas da Confeitaria Colombo, no centro do Rio de Janeiro, pode até parecer lugar comum, mas ao se entrar aqui pela primeira vez - como é o meu caso - realmente voltamos no tempo e quase achamos que não estamos adequadamente trajados para a classe do ambiente, que, mesmo de época, ainda se impõe; ma o disparar de flash da máquina digital de um casal de turistas me traz de volta dessa "viagem", e eu, do fundo do salão, volto a reparar nas pessoas, meu mais recente hobby.

É muito interessante a diversidade de todos nas mesas, incluindo os gringos, mas algo que chama muita atenção é a completa ausência de negros, salvo os que servem as mesas e os do lado de lá do balcão. O tempo pode ter passado, mas o Brasil ainda mantém realidades que precisam ser resolvidas, de fato.

Ao som do sopro majestoso de mestre Pixinguinha, sigo observando e vejo a senhora de longa idade, o jovem executivo, as duas secretárias, o designer, a estudante de aparelho nos dentes e sem óculos na companhia dos pais, um jovem casal de meia idade, o clássico advogado de cabelos brancos, com blazer e camisa azuis e calça bege, o maitre, os flashes das máquinas sempre presentes e o tempo que, com o veludo da voz de Chet Baker ao fundo, me faz lembrar dos que aqui passaram e compartilharam sonhos, segredos, amores e boas gargalhadas, todos na construção de um momento de vida, todos acreditando que o amanhã seria certo, todos certos de que um novo momento, ainda melhor, haveria de chegar...

Tudo isso tendo esse salão por testemunha, o barulho dos talheres, conversas e xícaras como complemento de fundo musical, e a Confeitaria Colombo como esse portal que une sonhos e gerações.

domingo, 17 de maio de 2009

OSGEMEOS


Otávio e Gustavo Pandolfo são OSGEMEOS (assim mesmo, junto e com letras maiúsculas), e são eles que nos levam, por meio de seus trabalhos, para locais mágicos e com elementos bem conhecidos, como se fossem portais para outras dimensões, mas dimensões de nós mesmos, de nosso imaginário, de nossos sonhos.

O uso de estampas e coloridos intensos e bem trabalhados estão presentes em quase todo o seu trabalho e as pessoas amarelas são marcas registradas, mas o mais interessante do trabalho é ver como o talento desses dois grafiteiros paulistanos transcendeu a arte do muro, da rua, assim como o das galerias e demais espaços compreendidos como específicos para exposição de "arte". A junção de elementos e o demonstrar de possibilidades múltiplas, como a montagem de uma casa dentro de uma cabeça de madeira ou o caleidoscópio quase espacial de uma outra, nos faz recordas que a arte vai bem além do uso de um único sentido, a visão, e estamos o tempo inteiro interagindo com elementos em nossa vida, em nosso cotidiano, que pode nos transpor para ambientes como esses em que OSGEMEOS nos levam com o seu trabalho.

A poesia está presente em todo o trabalho, assim como em nosso dia-a-dia, nos proporcionando a visão da beleza singela na conjugação de cores e na junção de elementos bem diferentes dos usados nas telas e nos muros. Ir além, saltar no abismo, se permitindo sonhar e compartilhar as visões dentro desses sonhos é o que a exposição Vertigem, que o Centro Cultural do Banco Brasil abrigou, nos deu.

OSGEMEOS mostram o novo mundo da arte e da possibilidade, e as ruas estão em constante movimento.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

De Ver Cidade

Foto Walda Marques

Não sou arquiteto, mas um cidadão que vive dentro desse emaranhado da cidade eu sou, e, como tal, por vezes percebo essa interação, especialmente agora que busco nova morada em nova pólis.
Fato é que as andanças por esses espaços mostram coisas interessantes, e uma delas surgiu em conversa com minha irmã, a super fotógrafa Walda Marques (www.tabernasaojorge.com.br), quando concluímos que as intervenções que nelas são feitas seguem para a história e com elas interagimos, e é esse presente, o de viver a partir das novas ruas, dos espaços recompostos, do pensar urbano que se forma a partir do sucesso de intervenções realizadas em uma cidade.

Belém é um bom exemplo disso: após o trabalho impressionante do arquiteto Paulo Chaves à frente da Secretaria de Cultura do Pará, obrigatoriamente nos relacionamos com uma nova cidade a partir dos espaços novos e/ou readequados que surgiram, e que a obriga inclusive a pensar sua periferia, seja pela ausência de uma intervenção direta nela - o que pode ser fruto de abandono e descaso - como pela necessidade criativa de formar pontes que liguem essa cidade cada vez mais separada.

Fato é que após esse trabalho, o que fica posto à cidade e aos que nela habitam e passeiam é a interação presente e o pensar no futuro, já que a discussão somente em torno do nome do administrador de quem a fez somente serve para comprovar que o trabalho realizado atingiu o objetivo maior de permitir uma nova interação com um lugar que precisa agora saber para onde deseja ir a partir da relação estabelecida entre seus cidadãos, os espaços públicos existentes e a urbanidade fruto desse emaranhado.

Isso é o que vejo e sinto nessa manhã cinzenta de outono carioca...mesmo não sendo arquiteto.

EFÊMERO*

Pensar sobre a efemeridade do tempo me parece uma grande bobagem, porque, ao pensarmos nisso, deixamos que a vida se escorra com a rapidez invisível da desatenção e da ingenuidade da crença de que ele pára e aguarda a conclusão de nosso pensamento.

Maratonista campeão da corrida do destino, esse senhor nos mostra que o importante mesmo é usarmos o tempo de passagem, o tempo do viver, com a alegria comovente de um cachorro em um passeio na janela do carro, aproveitando a paisagem, se refrescando e tendo a certeza de que, quando o veículo parar, o vento foi companhia constante e fez do passeio um momento especial e de muita brisa.

* Para Carlos Obed, o Caco.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Belém e seu abajour lilás

Da janela do quarto vejo o amanhecer em Belém e o seu ceú lilás, esse que imita o abajour que encanta Dalva de Oliveira e que me traz tanta coisa boa, tanta visão do ontem e do amanhã. Este presente portal me permite ver a cidade com os encantos que tem, permitindo esse encontro quase despedida de quem fará longa viagem e não sabe quando volta.

Para quem não a conhece, sugiro presteza para ver o que Belém guarda e apresenta. Sua chuva na tarde com fortes pingos mostra a beleza do sol refletindo nesse conjunto de gotas, o anoitecer nos recebe com abraço quente e convidativo, e uma passagem na Taberna São Jorge não faz parte da programação da cidade, mas sim da vida. Nunca venha a Belém e deixe de conhecer esse lugar.

O Rio de Janeiro e os aromas que guarda são inéditos, mas Belém é cidade irmã, dessas que surpreende e lhe presenteia com o sentido pleno do amor que a amizade produz.

Volto para minha bela canção de Dalva e vejo, com o amanhecer lilás à frente, o abajour antes cantado como cantiga de ninar. Tu consegues escutar?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Caminhos da Sustentabilidade

A nós está posta a possibilidade de renovação, a nós a responsabilidade de entregarmos bem cuidada a Terra que pegamos emprestada de nossos filhos, para que possam seguir adiante com a história desse ser chamado homem, capaz de tantas descobertas e invenções; a possibilidade de construção do novo, mesmo que esse novo nasça das cinzas e dos escombros dos valores que, por se esgarçarem em nossa frente, mostram o quanto nos aprisionavam.

Especialistas como Irving Laszlo, integrante do Clube de Budapeste, destacam o novo momento e a oportunidade que temos de (re)novação, de debate e mudança de cultura de tratar o que está além de nós, de nossos próprios interesses, de nossa própria casta. O homem está sendo convocado a reencontrar a sua canção, a conviver, tolerar e compreender o outro homem, aquele que é chamado de diferente, quando o que há de melhor é sermos diversos, quando todos nós somos células do mesmo tecido social chamado humanidade.

O individualismo, a era do TER antes de SER, do "farinha pouca, meu pirão primeiro", está em farrapos e se vê diante do espelho da verdade histórica, tendo que olhar para dentro de si para encontrar respostas, como um processo terapêutico coletivo e sem fim. Na macrotransição anunciada por Laszlo, está a oportunidade de fazermos diferente, conscientes de que não conseguiremos ver os frutos, que esse suco será sorvido pelos que vêm depois de nós, mas certos de que a resposta está no fato de que não desfrutarmos da sombra amanhã não tira o significado de plantarmos a árvore hoje.

Empresas, governos, ONGs e a sociedade em geral estão no caminho que responderá a questões hoje de todos nós cidadãos, não somente de especialistas envolvidos com o tema. A crise que hoje atravessamos vai além do óbvio e coloca em xeque a humanidade e a forma com que se relaciona com os elementos naturais e, por que não dizer, com o próprio ser humano. Nesse momento, somos convidados a ouvir, a compartilhar saberes e encontrar, conjuntamente, uma saída sustentável e nova para o mundo.

A atual crise mundial evidencia a chegada de previsões antes anunciadas por ambientalistas e especialistas na discussão sobre a busca da sustentabilidade do planeta. Baseado em seus três pilares, o conceito de sustentabilidade cunhado com o Relatório Brundtland tem, na busca pelo equilíbrio econômico, ambiental e social, seu tripé de sustentação.

Não basta a ampliação econômica das ações, sem o cuidado pela não ampliação do passivo ambiental e social causado. Devemos investir nas atitudes que caminham no sentido de garantir o equilíbrio entre esses três pilares, de tal forma que um não inviabilize o outro. Do que adianta uma instituição gerar alto nível de crescimento econômico se deixa atrás de si um rastro de destruição ambiental e um enorme bolsão de miséria social? Certamente o valor econômico angariado se esvairá na tentativa de compensações que nunca chegam ao aceitável, muito menos ao ideal.

A crise que hoje vivemos chegou antes do que todas as previsões feitas, mesmo as mais catastróficas, e quem achava que não estaria mais aqui para vivenciá-la foi pego de surpresa e agora encontra-se perdido, buscando respostas para uma realidade incompatível com o índice de crescimento econômico vivenciado nas últimas décadas, em especial na década de 90.

Fácil o processo de reformulação de valores e cultura não é, assim como não foi fácil construirmos o que hoje vivemos, mas o dilema atual nos mostra, ao contrário do horror, a beleza da construção de possibilidades e caminhos, do se refazer.

Uma sociedade muda quando todos os que estão nela se unem e se comprometem com o que vem, e isso só ocorre quando conhecemos, quando saímos de nossas cavernas internas e temos a coragem de seguir adiante.

São vários os caminhos apontados, e cresce o número dos que desejam se unir na construção de suas viabilidades. A escolha, como sempre, está nas mãos de cada um de nós, e é chegada a hora que as usemos estendidas a um irmão, de maneira que juntos possamos contruir o mundo novo.

Rio, outono de 2009.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Outono Carioca

Abril trouxe o outono com todas as suas cores para o Rio. No final de semana com ressaca e ondas gigantes, o mar passa como que limpando e renovando tudo à sua frente, para que novos passos sejam dados sob a luz dos filmes de Woody Allen. A sensação de recomeço é ampla depois de uma Páscoa com João, Antônio e Rafael (mesmo que distante fisicamente); meus pés me levam em busca de um novo canto e encanto para que muitos sóis se ponham e nasçam alimentando essa vida nova.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Com o vento do Espírito Santo

Estar no Projeto Manguerê é encontrar o Brasil. Ver a flor no cabelo da menina e da professora é ver o encontro desse gênero fantástico, é completar o tecido desses dois dias, nos quais pude aquecer ainda mais minha esperança no futuro que se anuncia.

Depois de Brasília, encontrar em Vitória o Manguerê Poético no meio de São Pedro, esse, "que já foi pescador e guarda as chaves do céu", esse mesmo céu que se debruça acima das nossas cabeças e pode ser alcançado com as pontas de estrelas dos nossos dedos, foi um presente especial.

É bom ver que existem outros e outras, bravos e bravas que continuam a construção desse roteiro.

Ainda tem vaga. Pode chegar.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A palavra, a jaula e o leão

No final de semana o espetáculo "Parem de falar mal da rotina", de minha amigairmã Elisa Lucinda voltou aos palcos do Rio de Janeiro, no teatro SESI da Graça Aranha, no Centro. Até aí, nenhuma novidade para um espetáculo que já completa 07 anos e está em sua sexta temporada no Rio, mas uma coisa me chamou atenção no mesmo final de semana. Na Ladeira Tabajara, localizada não muito distante, em Copacabana, um tiroteio entre facções rivais do tráfico colocou moradores de três bairros testemunhas do som que os fuzis e demais armas pesadas fazem; eu, que ora habito um quarto no Humaitá, pensei que fosse ao lado, na favelacomunidade Dona Marta, recém ocupado pela polícia e vivendo dias de paz.

Eu, que sou observador desse cotidiano - e que andava distante daqui - me vi pensando em como podemos encontrar as saídas para essas cenas que uma cidade entende como comum (desde quando é comum uma bala de fuzil atravessar um morro, voar mais de um quilômetro e cair na casa de um zelador em um bairro que não faz nem fronteira com o outro? Desde quando uma tarde chuvosa do domingo de outono ser entremeada por pipocos de armas é comum?), e pensei nisso enquanto me preparava para ir ao teatro, ver o Parem, ver Elisa e ouvir a beleza que a coloquialidade pode fazer com a poesia, com a vida, com as estréias que podem ser o nosso dia-a-dia.

Penso que o domínio da palavra, a compreensão da dimensão desse elemento guarda um segredo. Dominar a palavra é dominar o leão dentro da jaula, é conseguir ser suave e cuidadoso com o outro, é se permitir ouvir uma outra opinião, é possibilitar contar nossas histórias, compartilhar nosso mundo e produzir, com isso, essa paz que tantos de nós almejamos.

Ouvindo novamente os estampidos dos fuzis da Ladeira Tabajara, que novamente ganham a noite do Rio, tenho o desejo de - metaforicamente - colocar uma rosa em seus canos, como sementes de palavra, como compreensão da extensão desastrosa da palavra ódio e como elevação da dimensão da palavra amor.

O que fazer? Ainda não sei bem ao certo, mas, como diz Elisa em sua peça: vou me meter. Do meio jeito, com as minhas possibilidades, da minha forma, farei com que a palavra chegue aos jovens, para que possam nos contar seus (des)caminhos e para que possam encontrar em nós uma mão estendida, um olhar direto, ouvidos atentos e a possibilidade de um novo futuro.

Vamos juntos?

sexta-feira, 13 de março de 2009

A frugalidade dos brigadeiros

Sei que o título desse post deve ter feito alguns - e algumas - salivarem, porque os brigadeiros são aqueles amigos de inúmeros momentos, posto que feitos dessa substância mágica, o chocolate, mas o título remete ao que vi a partir dos pouco mais de 20 brigadeiros na comemoração do aniversário do Antônio, meu caçula figura.
Em épocas de frugalidade, posso dizer que o moço é hype, porque com poucos presentes, pai, mãe, avó, um bolo - de chocolate -, alguns balões e muita alegria, mostrou como a felicidade realmente segue conosco, mora ao lado e vive bem mais próximo do que imaginamos. Vendo Antônio, vi mais do que a festa, vi múltiplas possibilidades, vi mil crianças, vi um salão lotado, vi todos os que lá não estavam e vi o presente constante e diário que é viver.

terça-feira, 10 de março de 2009

Nélida, Dinha, Elisa e as palavras.

No último sábado, li a entrevista de Nélida Piñon no caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, e encontrei uma dama, dessas que não passam despercebidas e que mostram a que vieram ao mundo. Conhecia um pouco de seu trabalho e de sua história, mas não sabia de sua dimensão, de sua clareza e de como fala do mundo e das perspectivas (?) que permeiam esse Brasil. Mulher, escritora e senhora de uma literatura fina e mundialmente respeitada, Nélida nos chama à verdade da relação que existe entre a distância das letras, da palavra, do entendimento, e do tal desenvolvimento, não esse econômico que hoje se debate, mas o humano. As palavras que formam esse mundo literatura transformam o ser homem e permitem que vejamos, além desse horizonte, um caminho para uma nova humanidade.

No mesmo dia, conversando com uma grande amiga, também escritora, fui apresentado à obra de Dinha, na coleção "Literatura Periférica", que a editora Global lançou. "De passagem, mas não a passeio" é a mostra de que Nélida tem razão quando fala da amplitude que nos dá a literatura, porque Dinha nos traz poesia de dentro de um mundo onde muitos de nós só enxergam o medo. Poesia real, poesia visceral, melhor dizendo, mas não sem amor. "Passamos das dez/ Já não somos irmãos", assim ela nos coloca em um lugar de reflexão rico e intenso. Lendo essa autora da favela Vila Cristina, no Parque Bristol, em São Paulo, essa escritora "periférica", leio muitas pessoas, rostos, vozes, sorrisos e possibilidades, e me lembro de Cristóvam Buarque questionando quantos prêmios Nobel o Brasil deixou de ganhar por não permitir que seus jovens, cidadãos brasileiros como todos nós, tivessem a oportunidade de descobrir que podiam, que era possível desenvolver o talento que cada um de nós carrega.

Nesse momento, Nélida, Elisa (minha amiga) e Dinha são uma só voz. Entre a Lagoa, no Rio, e Vila Cristina, em São Paulo, não existe mais distância, porque essas mulheres usaram as pontes que as palavras constróem...além de botarem o pé na porta do óbvio e garantirem seu espaço e seu sucesso.

Evoé todas elas!

sábado, 7 de março de 2009

VIK MUNIZ. Uma visão!

Acabo de chegar da exposição de VIK MUNIZ no MAM Rio. Quem não o conhece faça isso urgente e não deixe de passear pela obra dele (www.vikmuniz.net). É uma visão encantadora e inesquecível ver uma obra tão bonita e tão bem apresentada. Com ele e nas imagens de suas obras (sim, porque o moço monta imagens e as registra em suas fotos, trazendo um universo de coisas, de diamantes e bitucas de cigarro) pude ver uma história contemporânea. Uma arte que provoca e faz (re)pensar bastante, inclusive colocando em discussão o seu preço, seus elementos e a que nos leva encontrar. Um presente! Quis vir aqui e contar. Valeu!

sexta-feira, 6 de março de 2009

(Re)Descobertas Poéticas


Em tempos de reconfiguração dos olhares sobre o mundo e sobre a vida, a poesia me parece boa ferramenta propulsora de (re)descobertas. Aos que ainda não conhecem, dou a dica da Casa Poema (www.casapoema.com.br), onde podem encontrar cursos de poesia falada, da nova ortografia com tons poéticos e de introdução a essa tal filosofia. Fica no Rio, mas a super equipe de lá promove cursos por todo o Brasil.

Começando a navegar

De cá, com meus olhos abertos e atentos, escreverei sobre minhas impressões do cotidiano, esse criador de belos momentos. Espero que gostem das impressões e voltem sempre. Abração.