quinta-feira, 25 de junho de 2009

Encontro na chuva

Foto: Walda Marques

A foto acima é de um momento de Belém do Pará, minha cidade natal, e ao fundo podemos ver,tímido, o pórtico de entrada para o Forte do Castelo, onde nasceu aquela bela e surpreendente cidade, mas também poderia ser um portal, desses que desobedecem o tempo e lugar, ligando neste momento minhas duas cidades nessa tarde de chuva de inverno no Rio de Janeiro. Ambas, mágicas que são, têm a água, esse elemento celular e fundamental, como grande mobilizador. A segunda com a água como grande companheira, a primeira com ela como algo sempre presente, mas nem sempre aberta aos nossos olhos.

A imagem de Walda Marques nos traz essa sinergia, essa ligação entre lugares, sensações e almas que encontram nos momentos de chuva um momento de (re)encontro e prazer no contato conosco e com o outro.

Sigo ouvindo o barulho dos pingos no telhado e o aroma de minhas ervas levando minhas orações aos deuses do firmamento e do amanhã.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Caeirinho e a Carta da Terra

Acabo de ler a peça infanto-juvenil "Caeirinho e a Carta da Terra", escrita por Geovana Pires e feito com inspiração total na obra de Fernando Pessoa, sendo, portanto, guardião de rebanhos de belas cenas. Falando sobre as questões contemporâneas para um público que não está sendo trabalhado na questão da sustentabilidade - salvo alguns casos -, que são as crianças e jovens, Geovana faz "Pessoinha" entrar em seu "Wíndios Tchuptchura" e encontrar um outro personagem da peça, baseado no mais famoso heterônimo do mestre Fernando Pessoa, e também tido como mestre de todos eles, que é Alberto Caeiro, que na peça é o "Caeirinho", menino de 10 anos que, junto com seu amigo "Árvore de Campos", ajudam "Pessoinha" a encontrar a "Mãe Natureza" e o "Índio Pôr do Sol", para juntos seguirem até o ano 2009, a fim de impedir o quadro de devastação que encontram no futuro, e tudo isso viajando no tempo com efeitos de gelo seco e muita criatividade.

Todos os atores envolvidos são jovens e donos de trajetórias consistentes nos teatros e nos espaços passíveis de uma encenação teatral, como a rua, por exemplo, não sendo coincidência o fato de alguns deles terem passado pelo histórico grupo "Tá na Rua", o que significa terem passado também pelo talento e resistência do grande mestre Amir Hadad.

Caeirinho veio para ficar e ir além dos palcos. Não me espanto de vê-lo um dia visitando seu primo Chico Bento e aproveitando para bater um papo com toda aquela turma de Cebolinha, Mônica, Cascão & Cia, e o seu mar de navegação parece ser a internet, onde seguirá surfando nas ondas do bom texto, da bela poesia e dos grandes nomes como Fernando Pessoa. Quando estiver em algum lugar perto de vocês, seja na tua cidade ou na cidade de outros, não deixe de assistir, porque vale a pena, especialmente para os pais que estão ávidos por mostrar cada vez mais arte de qualidade para seus filhos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Paleta

O inverno não pareceria ter chegado, não fosse a ausência do calor dela na cama de edredon montada.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Saldo Positivo

Foto: Edney Martins - Sto Antônio do Tauá/PA

No último sábado estive com um grupo de pessoas, todas amigas de Carlos Obed, o Caco, na praia do Arpoador, no Rio. Na tarde fria nos reunimos para uma última homenagem a ele, que nos deixou abruptamente aos 37 anos, vitimado por um câncer extremamente agressivo. Lá jogamos suas cinzas e vimos sua volta ao pó e ao mar, fechando o ciclo de vida que muitos dizem não se encerrar aqui, "nesta dimensão".

Depois de jogar algumas flores e uma porção de cinzas no mar gelado, parei para uma oração e uma reflexão. Sempre havia a possibilidade de nos encontrarmos aqui, mas nunca dava, e fomos nos encontrar ali, depois de tantos anos, daquela forma, e o fato de Caco ter a minha idade me fez pensar na vida e na forma com que a levamos, com as escolhas que tomamos, com as formas que tratamos o outro e a própria forma com que lidamos com todo o universo à nossa volta e também o que está naquela outra "dimensão".

Não tem receita para a vida, há dicas, a possibilidade de intuirmos caminhos a partir de valores previamente cultivados ou criados a partir da experiência diante do novo a que nos propomos viver. Estamos, constantemente, mesmo sem percebermos, no processo de contabilizarmos nossas atitudes e a forma com que lidamos com todo esse emaranhado que vamos construindo no dia-a-dia. Olhando para o mar e sentindo o vento frio do Arpoador naquela tarde de outono carioca, ao ver a diversidade e a quantidade de pessoas que ali foram fazer a homenagem ao Caco, aprendi mais uma lição com aquele amigo que tinha a alegria como fiel companheira, aprendi a atentar para o fato de que nenhum de nós sabe quando será o final da caminhada, por isso é importante mantermos uma conduta que permita um saldo positivo no balanço final dessa estrada chamada vida.

Aprendi e vim aqui contar para vocês, como menino que descobre como dar laço no fio do sapato, como menino que descobre que sabe fazer estrela, como menino que sabe que um amigo foi, mas com o saldo mais do que positivo, depositado em cada um de nós.