quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Avesso

Hoje, 09 de dezembro, é o dia mundial de combate à corrupção, e acabo de ver as cenas dos policiais do Batalhão de Choque do Distrito Federal avançando sobre um grupo de manifestantes que estava em frente ao Palácio Jaburu (que nome adequado), sede do governo do DF, utilizado mais para solenidades e sem finalidade administrativa (talvez o excesso de vidro de Niemeyer não ajudasse a dinâmica da "reza" que tomou conta da cúpula daquele governo). A imagem me lembrou uma cena célebre da história do Brasil, mas os que estevam sentados no asfalto não tiveram a sorte de ter várias bolinhas de gude para dificultar a chegada da cavalaria (sim, isso mesmo, a cavalaria) que avançou contra eles.

Com spray de pimenta (o
must entre as forças de segurança), cassetete (clássico), bombas de gás (síndrome de Bin Laden), os policiais não livraram a cara de ninguém, nem da imprensa, que lá estava fazendo o seu papel. Agora o ministro da Controladoria Geral da União fala ao povo em horário gratuito e dizendo que faltam reformas mil no Brasil (política, eleitoral etc.) e que é comum um corrupto (alguém já viu um, de direito, de perto? Parece Uirapuru, com canto encanta e não aparece) não ser condenado a nada - a não ser ficar com cara de panetone (não mais de pastel, porque essa cara é a nossa diante dessa confusão toda).

Já escrevi aqui que não nos iludamos com essa situação do Distrito Federal. Por conta da ameaça que um secretário sofreu, soubemos de tudo isso, mas fosse o Arruda um homem inteligente (será?), nunca saberíamos de nada, e ainda corríamos o risco dessa criatura ser candidato a vice-presidente (vai vendo o tamanho da encrenca em que estamos metidos). Ou seja, é gigantesca a chance de termos uma imensa parcela de governos funcionando com base nessa mesma estrutura, e o que é pior, com poder para controlar os Batalhões de Choque para inibir manifestações contra si. A vontade que dá é instalar uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) é lá em Brasília mesmo, no plano piloto, limpando a cidade dessa situação toda, porque até agora, o que não vi se manifestando foi a estrutura do Judiciário. Não apareceu um magistrado para falar nada, e polícia que é bom para prender esse bando de vagabundo, só vi do lado dos bandidos.

Do lado do povo das togas, só a OAB, que mandou conselheiros como observadores da manifestação (quem conhece a OAB e os conselheiros com ternos bem cortados no meio de manifestantes, deve pensar que Papai Noel também existe), e esses alegam que nem tiveram tempo de fazer uma negociação. A polícia do DF entrou e baixou o cacete mesmo, sem papo furado, e o coronel Luiz Fonseca (anotei o nome), comandante da PM de pindorama, disse que estava garantindo o direito de ir e vir do cidadão brasiliense. E o direito de ter um governo que preste? E o direito de ter o valor de seus impostos investidos na melhoria de vida de sua população e não em cavalos?

Hoje é o dia de combate à corrupção, e o vice-prefeito de Manaus acaba de ser preso, mas isso já virou notícia comum, tão comum como a de que um juiz do TRE do Pará concedeu liminar para que o prefeito de Belém, Duciomar Costa, fosse mantido no cargo à revelia do fato de que usou o dinheiro da máquina administrativa para se reeleger. Arruda acaba de entrar com uma ação para barrar qualquer ação do seu partido, o DEM, contra ele, sinal de que quer garantir legenda para tentar a reeleição também. Se Duciomar pode, porque ele não? Quem sabe descola um magistrado muuuuuito isento que lhe garanta esse direito, não é mesmo?

Hoje, dia de combate à corrupção, vejo tudo do avesso, vejo safado chamado de doutor ou excelência, e trabalhador levando cacetada de outro peão cumpridor de ordens, agindo "sob o estrito cumprimento do dever" e arrotando direitos com bafo de mofo do "calaboca" que colocou no bolso. Hoje, dia em que deveríamos gritar e pedir que isso acabe, vejo que o caminho é longo, e que andamos muito pouco desde a cavalaria de 1968 e a de agora; a democracia, este bebê que insiste em seguir, parece um menino Mogli perdido na selva depois do naufrágio do navio dos princípios, enquanto 04 irmãos são enterrados depois de morrerem soterrados por conta da chuva que caiu em São Paulo.

Há muito o que seguir, há muito o que construir, há muito o que viver, há muito o que fazer, e no avesso disso tudo, desligo a tv depois do "boa noite do Bonner" e torço para que amanhã as notícias sejam melhores e que cheguemos "ao avesso, do avesso, do avesso".

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Gente é para brilhar!"

"Assim como um homem ou uma mulher se converte em pessoa de caráter à medida que conseguem responder proativamente aos desafios que a vida lhes oferece, uma sociedade se torna coesa e se projeta quando é capaz de entender quais são os desafios que deve superar coletivamente" (Bernardo Toro)

O título deste post traz uma parte de uma famosa música de Caetano, e utilizo para expressar de maneira direta o que senti ao ler textos de alguns especialistas em RH que trazem à tona uma coisa que deveria ser simples, mas, talvez pela sofisticação que a simplicidade verdadeira sempre traz em si, não é comum de ser vista no mundo das corporações em geral: as organizações são feitas de pessoas, e são elas o seu maior patrimônio.

Toda pessoa jurídica é, de fato - e mesmo de direito, porque sempre precisa de um preposto para lhe representar - feito por pessoas físicas, e são elas que decretam o sucesso ou o fracasso de uma instituição. O trecho do texto do educador colombiano Bernardo Toro, que coloco acima, destaca isso e reforça que é a partir delas, as pessoas, que construímos uma comunidade de sentido que conseguimos chamar de país. Putnam, fazendo o caminho inverso de Tocqueville - que havia estudado a América - se debruçou sobre a Itália e constatou que existia nas cidades do norte daquele país - mais desenvolvidas e estruturadas do que as do sul - um forte sentimento de solidariedade e confiança, que ele denominou de "capital social". As pessoas resolviam eventuais conflitos de forma pacífica e amigável, e a confiança de ambas as partes no cumprimento do estabelecido era a principal garantia não somente da resolução de um problema pontual, mas da construção de uma sociedade calcada em princípios sólidos de caráter.

Quando vejo a coqueluche que o tema da sustentabilidade se transformou, percebo que ainda há um descompasso entre o que se fala e escreve e o que de fato se faz, e, mesmo com os avanços evidentes que encontramos, a percepção sobre o capital humano ainda deixa a desejar.

Recentemente estive à frente da área de comunicação em uma organização, e vi os efeitos positivos que olhar o público interno como principal stakeholder causou, assim como pude constatar que a promoção do voluntariado dentro de corporações proporcionou um nível de relação entre áreas de uma empresa que dinamizou bastante o processo de trabalho. A sensação de pertencimento gera um envolvimento maior com as questões do coletivo.

Somos todos seres humanos, somos mola propulsora de uma sociedade que se formou a partir do olhar para nós mesmos, e nos tornamos sociedade quando passamos a considerar o outro como um elemento com o qual nos relacionamos, com o qual acreditamos que podemos trocar, e essa troca se dá quando nos dispomos a ouvir o outro, seja ele par ou não no mundo corporativo, porque, antes de tudo, goza da condição de humano, e isso já nos faz pares no viver. Considerar isso é pensar em sustentabilidade. Perceber que uma média gerência insatisfeita pode inviabilizar os mais arrojados planos de inovação, que o chamado "chão de fábrica" (acho horrível essa denominação) tem muito a nos contar sobre fluxos mais eficazes de negócio, é pensar e considerar uma instituição como o ser orgânico que de fato é.

Tratando das relações que vão além de seus muros, que se estendem às casas de seus colaboradores, às escolas de seus filhos, aos clubes que frequentam, aos lugares em que celebram o seu espírito, compartilhando de suas vidas, os entes corporativos pavimentam uma trilha sustentável de vida, possibilitando a construção de caminhos alternativos nos momentos difíceis, assim como os de celebração nas vitórias alcançadas no decorrer do processo, mas isso, caros amigos, se faz com liderança exercida com responsabilidade, com equilíbrio e sem auto-suficiência, e aí está um dos grandes desafios.

A necessidade de construção de um mundo sustentável não é mais "moda passageira de gestão", é mais do que realidade com a ocorrência de graves problemas climáticos, e se essa transformação se dá a partir dos países e das corporações, detentoras da maior parte da renda mundial, é nas pessoas e na figura individual de cada um de nós que ela nasce e se fortalece.

O mundo é uma rede, e nós somos um ponto na trama que a compõe. Quanto mais pontos conscientes tivermos, a rede mais forte será, e o nosso amanhã há de ser feliz depois de um sono tranquilo. Vamos a ele!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guerrilha no Asfalto

No Rio de Janeiro, o governo do estado vem intensificando as ações para instalar mais Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nos morros da cidade, com especial olhar sobre os localizados na zona sul. Com o morro Santa Marta sendo utilizado com principal cartão de visitas dessa política de segurança, outros já foram ocupados, como Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, Batan e Cidade de Deus, na zona norte.

Formado por recrutas recém saídos da academia de polícia (princípio que tem o objetivo reduzir os riscos de "vícios" já incorporados por integrantes mais antigos da tropa), as UPP's têm apresentado resultados interessantes com a instalação de programas sociais que levam às comunidades ações nas áreas esportivas, culturais e educacionais, como aulas de hip-hop, capoeira e informática. O governo pretende beneficiar mais de 300 mil pessoas até o final de 2010 com essas ocupações.

Seguindo o seu cronograma, a Secretaria de Segurança agora procura instalar uma UPP nos morros de Pavão-Pavãozinho (Copabacana) e Cantagalo (Ipanema). No início da semana (30/11), policiais do BOPE, do batalhão de choque e integrantes de grupos de elite da polícia civil ocuparam os dois morros, com integrantes do BOPE descendo de helicóptero na parte mais alta. Sem resistências consistentes, hoje pode-se dizer que existe o controle daquelas localidades pelos policias, e logo teremos a instalação da tão esperada UPP.

A novidade é o que está acontecendo agora. Utilizando técnicas de terror e de guerrilha, os traficantes estão conseguindo manter os moradores desses bairros apreensivos, e forçaram o fechamento de parte do comércio de Copacabana ontem (01), incendiando um ônibus em plena Av. Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro. Agora, enquanto escrevo este post, uma bomba caseira explodiu próximo ao Shopping Cassino Atlântico, localizado na "fronteira" de Copacabana com Arpoador. O alvo era mais um ônibus, que não foi atingido, mas o rosto das pessoas em vota demonstra o estado de apreensão que ainda paira no bairro.

Táticas de guerrilha serem usadas pelos traficantes não é novidade, e isso tem se sofisticado com o tempo, resta agora saber como é que a Secretaria de Segurança vai lidar com este embate que não é realizado dentro da comunidade, mas no asfalto em torno dela, exatamente no meio do bairro símbolo da cidade maravilhosa. Ao andar no bairro, segue um bom conselho: atenção redobrada, especialmente com motos em alta velocidade e com duas pessoas, porque, por hora, parece ser mais fácil andar em Bagdá do que aqui.

Em tempo: Pavão-Pavãozinho e Cantagalo são controladas pelo Comando Vermelho, a maior facção criminosa atuante no Rio, e são consideradas estratégicas, porque movimentam cerca de R$300.000,00 por mês com o tráfico de drogas. As armas não são de brincadeira. E sempre vale aqui a pergunta: como é que esses bagulhos armas sobem o morro, parceiro?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Haja panetone!"

A expressão do ministro Ayres Brito foi proferida após ser informado de que o governador Arruda recebera o dinheiro de seu assessor para comprar panetones que seriam distribuídos à população carente do Distrito Federal. Já o colunista José Simão informa que o governador queria mesmo era comprar a Bauducco, tamanha a quantidade de dinheiro recebido no esquema de corrupção, instalado desde 2006 (difícil acreditar que não ocorria beeeem antes disso).

Fato é que quando menos achamos que nada mais pode nos surpreender, aparece o maior escândalo político que já se viu no país - até agora. A quantidade de vídeos e gravações feitas, onde aparecem integrantes dos poderes executivo e legislativo do DF, posicionados em cargos de alto escalão - como é o caso do próprio governador e do presidente da câmara distrital, equivalente às Assembléias Legislativas dos estados - além de fornecedores do governo, deputados, secretários, vice-governador e dono de jornal, que deveria informar ao invés de ludibriar, caíram como uma bomba no cenário político nacional.

O DEM, partido que mais se empenhou na investigação do mensalão do PT, se viu com o seu próprio sistema de compra de votos e corrupção montada na estrutura que era, até então, tida como uma das mais respeitáveis administrações públicas do país. O governador Arruda angariava inclusive o respeito de integrantes de partidos de oposição, pelos indicadores demonstrados, o que teoricamente lhe rendia o apoio da quase totalidade de deputados da câmara distrital. Resta saber se eram todos remunerados com panetones ou não.

O PSDB, que integra o governo com o seu presidente regional sendo envolvido no escândalo, vislumbra efeitos negativos para a parceria entre os partidos para a eleição de 2010, por isso tomou a decisão de deixar o governo do DF para não se ver ainda mais contaminado com a lama que anda escorrendo por lá, e que Arruda já disse que poderá ser maior ainda, caso o partido insista em "radicalizar" com ele. Fico aqui pensando o que seria "radicalizar" para ele...

Mas a questão é, se acharmos que isso é um fato isolado, logo teremos outro escândalo nos surpreendendo, porque esse esquema, usado por PT, PSDB e DEM em diversas esferas de governo, é padrão, e deve ser lugar comum nos gabinetes, meias, cuecas, residências oficiais e demais buracos em que esses roedores se metem. Solução para isso? Transparência! Exatamente o que não se consegue aprovar no congresso ou em assembléias legislativas.

Para que possamos acompanhar isso direito, para que a quantidade de furos que fizeram na mangueira da democracia sejam fechados e deixem de escorrer a dignidade necessária, é fundamental o envolvimento de cada cidadão, individualmente e organizado em espaços coletivos como as redes sociais. As estruturas de controle existem, e, se elas não fazem pontes com os cidadãos, tratemos de criá-las em direção a elas, façamos com que cumpram sua função ou sejam reorganizadas ou mesmo extintas, como é o caso dos Tribunais de Contas. O que não dá é para sermos surpreendidos com um governador pego com a "boca na botija" tendo a cara de pau de ler as aspas do texto feito por seus advogados, que, diga-se de passagem, são três, escolhidos entre os mais caros do país.

A julgar pelos honorários que o governador está pagando, o Natal da "famiglia" Arruda será minguado de panetone.