domingo, 28 de abril de 2013

Balcão de Outono

A fria manhã de outono guarda em si a memória do apito de fábrica.
Estudantes, aposentados, trabalhadores, mães, jovens, adultos, todos dividem o balcão com a velocidade que ainda nem lembram se de fato é necessária.

Assim como aquele balcão de Higienópolis, inúmeros outros se multiplicam pela cidade, repetindo quase que a mesma cena matinal em uma "padoca" paulistana: o jovem advogado lê o jornal com as já velhas notícias do dia, o punk tatuado pede sua média enquanto manda o seu vira lata na calçada obedecer o comando que ele mesmo repudia, a mãe livre da criança se esbalda na bomba de chocolate, o velho ansioso espera o café pensando em tudo o que tinha para fazer no passado, e são eles, os Alagoas, Cíceros, Amadeus, Sebastiões e Josés os maestros desses tempos.

Comandam tudo sabendo todos os pedidos, controlando a chapa como mecânico da Fórmula 1, rápidos e sorridentes desde a madrugada que anunciou a chegada dessa turba diária, espiral da construção do despertar de uma cidade que quase não tem mais tempo para os displicentes do lado esquerdo da escada rolante.

São Paulo ferve até no frio, até sem saber, e há quem jure que até sem perceber, repetindo os movimentos em looping contínuo de quem não pode parar, de quem, mesmo dizendo que precisa, não sabe pensar em inovar, que esquece que observando podemos repensar a forma como somos.

O balcão roda, o tempo escorre e logo alguém percebe que minha caneta risca sem sentido aparente palavras no analógico papel. Para não ser totalmente descoberto, me mimetiso gritando: "Alagoas! Sai um Minas quente com tomate". E o ponteiro imaginário segue na direção do amanhã.

São Paulo, outono, 2013.

BelTarde


A nova morada abre suas portas para a chuva dar as boas vindas,
e no Jurunas do "treme" o Rei, ele mesmo, em alto e bom som canta:
"nem mesmo o céu, nem as estrelas...",

Mas é sol lá fora e o nublado do horizonte vai lentamente abrindo. A percussão dos pingos canta junto, e o baile segue nessa março tarde do não saber...

e eterno aprender.

Belém, tarde Páscoa, 2013.