quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dalva, Herivelto e...Miriam

Segunda, dia 04, junto com o 2010 "valendo", começou o seriado "Dalva e Herivelto", escrito pela Maria Adelaide Amaral e dirigida pelo Denis Carvalho. Para os mais íntimos, não é segredo meu fascínio pela televisão e de que acompanho, na medida do possível e ao estilo do Rei Roberto, as novelas como um crítico que analisa performances, luz, direção, texto, e tudo o mais que estiver ali naquele pedaço de sonho que a TV acaba produzindo para sei lá quantos milhões de pessoas.

Acontece que ao ver "Dalva e Herivelto" fui tomado por um turbilhão de lembranças trazidas por vozes conhecidas e por bons momentos de infância e juventude. Me vi ali. Conheço os clássicos do rádio e da seresta (se podemos chamá-los assim) por intermédio de minha mãe, D. Miriam, de meu tio Célio (ouvia todo dia, às 6h, o Clube da Saudade, programa da Rádio Clube do Pará, que foi seu companheiro no momento do infarto fulminante que nos privou de sua especial companhia) e tia Marizita, aquela que guarda tantas memórias e histórias dentro de si, de seu sorriso e de seu orgulho de educadora que ainda hoje, aos 70 e tantos, leciona para as crianças do bairro onde mora.

Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Ataulfo Alves, Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Benvenido Granda, todos eles passaram pela sala de casa, que sempre se inundava com as belas vozes que embalavam letras e melodias que levavam os presentes a lugares tantos de um passado que naquele momento não era só dos mais velhos, mas de todos nós, incluindo eu, que guardo comigo aventuras da família de D. Paulina, minha tia-avó; e, a julgar pelo apelido de meus tios ("Espalha brasa", "Menino malhado" e "Rei dos vagabundos"), não eram poucas.

Vendo a minisérie da Globo e a produção apurada que a sustenta, conheço um período da história que me parecia familiar pelas memórias dos outros, mas nunca vivido. Aquele em que era nos bailes que as coisas aconteciam e para se conquistar uma bela moça ou distinto rapaz, era fundamental saber a arte de dançar, de passear pelo salão, de "escrever", como me disse minha mãe ao iniciar o caminho para que eu pudesse ser seu parceiro em bons e inesquecíveis boleros. Ainda hoje gosto muito de dançar, e danço até "ladainha bem cantada", mas confesso que um bom bolero ainda me deixa muito mais animado.

A histórica briga de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins gerou um dos mais instigantes "duelos" da história musical brasileira, e nos coloca diante de um amor guiado por valores que não ficaram perdidos na distante década de 50 do século passado. Ainda hoje, quando iniciamos a segunda década do século XXI, infelizmente, encontramos situações semelhantes vividas por tantos contemporâneos nossos, com a diferença de não ser embalada pelas letras fortes que conduziam a poesia da dor daquele amor.

Ah! O amor...ele, sempre ele, presente em tantos episódios da vida humana e gerador de tantos movimentos positivos e negativos da humanidade.

"Dalva e Herivelto" já começou campeã quando resgata a história do Cassino da URCA, com o glamour daquele esplêndido corpo de baile e com todos em seus summers e blackties dando o tom da festa. E, não fosse isso suficiente, me proporcionou esse reencontro na sala de casa da minha memória, com D. Miriam, minha querida mãe, me contando cada história (ou seria estória mesmo?) lembrada pelas faixas da coleção de CDs de Dalva de Oliveira que lhe dei de presente há tantos anos passados.

Como disse Arnaldo Bloch em uma de suas deliciosas crônicas, existem momentos em que "a alma dança", e é isso que acontece comigo quando vejo "Dalva e Herivelto", minha alma dança pelos salões de minha memória vendo aquela TV e a narrativa de vidas de estrelas que, como nós, vivem e se permitem. Que seria da minha vida sem isso, sem a luz difusa do abajour lilás das boas lembranças e situações vividas? Sei não.

Toda minha gratidão a D. Miriam.

8 comentários:

  1. Menino!!! Que bom que você escreveu isso! Eu estava me sentindo meio assim, lotada com as lembranças provocadas por Dalva e Herivelto ... Coisas da infância. Sorrisos, humores, sonoridades. Depois, a fase de fascínio pela Revista do Rádio, que me fez sonhar por horas a fio na Biblioteca Nacional, enquanto imaginava o auditório da Rádio Mayrink Veiga, PRA-9... Cesar Ladeira! Caramba!!! Tem toda uma geração que não sabe o que foi a era do rádio...!! Agora é hora de aproveitar e, enquanto cantamos com Dalva, mostrar para quem não conhece ainda o fascínio daquele período. Que forma boa de começar o ano!

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  2. Pois é, Elisa! Sou fascinado por esse período e por toda a história que envolve o rádio e os grandes cantores e cantoras. Não estou perdendo a série e já quero saber quando a lançarão em DVD, para que eu compre e mande para D. Miriam, que, pelo avançado da hora, deve estar no terceiro sono quando a série vai ao ar. rsrsrsrsrs

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  3. É isso. Também fui embalado nestas canções, entodas pelo meu pai - ex-palhaço no circo e na vida- viveu parte da juventude na Lapa dos anos 40 e 50 e até conheceu figuras que circulavam no pedaço. Hoje, quando dedilho João no violão, sinto que já estava escrito. Faltava Elisete gravar e ela gravou.
    Dalva era do balacobaco e Herivelto da boemia. Também estou encantado com a Mini Série.

    Belíssimo texto e belíssima família!

    Abs e vamos marcar para a próxima semana aquela cerva. Falemos com a Cacá.

    Raulzito

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  4. Ei, Raulzito!
    Que bom te ver por aqui. Depois me conta mais sobre essa figura tão interessante que é esse palhaço andante da Lapa.E adorei que lembraste Elisete, grande diva (sou fascinado por ela).E entre balacobaco e boemia, vamos sim marcar essa cerva, pq Cacá já deve ter voltado de Belém. Abração.

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  5. Obrigada por descrever o que eu não consegui! rs Sou amante quase casada com a música brasileira, e essa série também está mexendo em minhas raízes. Tenho saudades infindas desses tempos, que não vivi em tese, mas sei lá... só Deus sabe! Obrigada!

    Bjs

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  6. Roberta, eu que agradeço tua visita e teu comentário aqui. E vamos seguindo juntos essa série com tantas emoções. Bjs.

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  7. Que legal, gostei muito do post.. parabéns

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  8. Minha alma dança e canta na companhia do teu texto também. Que amor, música e poesia façam parte da memória de tantos outros navegantes do agora e amanhã.

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