segunda-feira, 23 de março de 2009

A palavra, a jaula e o leão

No final de semana o espetáculo "Parem de falar mal da rotina", de minha amigairmã Elisa Lucinda voltou aos palcos do Rio de Janeiro, no teatro SESI da Graça Aranha, no Centro. Até aí, nenhuma novidade para um espetáculo que já completa 07 anos e está em sua sexta temporada no Rio, mas uma coisa me chamou atenção no mesmo final de semana. Na Ladeira Tabajara, localizada não muito distante, em Copacabana, um tiroteio entre facções rivais do tráfico colocou moradores de três bairros testemunhas do som que os fuzis e demais armas pesadas fazem; eu, que ora habito um quarto no Humaitá, pensei que fosse ao lado, na favelacomunidade Dona Marta, recém ocupado pela polícia e vivendo dias de paz.

Eu, que sou observador desse cotidiano - e que andava distante daqui - me vi pensando em como podemos encontrar as saídas para essas cenas que uma cidade entende como comum (desde quando é comum uma bala de fuzil atravessar um morro, voar mais de um quilômetro e cair na casa de um zelador em um bairro que não faz nem fronteira com o outro? Desde quando uma tarde chuvosa do domingo de outono ser entremeada por pipocos de armas é comum?), e pensei nisso enquanto me preparava para ir ao teatro, ver o Parem, ver Elisa e ouvir a beleza que a coloquialidade pode fazer com a poesia, com a vida, com as estréias que podem ser o nosso dia-a-dia.

Penso que o domínio da palavra, a compreensão da dimensão desse elemento guarda um segredo. Dominar a palavra é dominar o leão dentro da jaula, é conseguir ser suave e cuidadoso com o outro, é se permitir ouvir uma outra opinião, é possibilitar contar nossas histórias, compartilhar nosso mundo e produzir, com isso, essa paz que tantos de nós almejamos.

Ouvindo novamente os estampidos dos fuzis da Ladeira Tabajara, que novamente ganham a noite do Rio, tenho o desejo de - metaforicamente - colocar uma rosa em seus canos, como sementes de palavra, como compreensão da extensão desastrosa da palavra ódio e como elevação da dimensão da palavra amor.

O que fazer? Ainda não sei bem ao certo, mas, como diz Elisa em sua peça: vou me meter. Do meio jeito, com as minhas possibilidades, da minha forma, farei com que a palavra chegue aos jovens, para que possam nos contar seus (des)caminhos e para que possam encontrar em nós uma mão estendida, um olhar direto, ouvidos atentos e a possibilidade de um novo futuro.

Vamos juntos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário