Há poucos dias terminou a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a maior feira literária do país, com três pavilhões gigantes no Rio Centro ocupados por editoras, livrarias, espaços interativos promovendo diálogos em torno da leitura, sessões de autógrafos, encontros, enfim, uma festa, literalmente. Nela o destaque foi uma floresta de livros, com labirintos de palavras que empolgavam a garotada, presentes seja nas visitas de escolas, como levados em passeio pelos pais que já vêem na leitura uma atitude que abre horizontes.
Em um dos momentos de descanso, vendo aquele mundaréu de gente para lá e para cá, pensei neles, nos novos leitores, em como é importante um evento desse e como esse encontro da criança com o livro de maneira lúdica permite a perenidade dessa relação. Mas, quando os pais sofrem dessa ausência de gosto pela leitura - seja por descuido dos avós não leitores ou pela escola que não conseguiu furar esse bloqueio - como é que a gente faz isso? Eu fiquei lá em meus devaneios, um pouco como mulher grávida que vê bebê em todo o canto, e continuei meu passeio, e no meio dele dei de cara com um estande imenso do governo do Rio Grande do Sul que convidava para conhecer as editoras gaúchas; contei, e eram mais de dez. Aquele estado do Brasil tem mais de dez editoras produzindo, fazendo livros e contando as histórias e estórias, teses e viagens do povo gaúcho. Ali, naquele momento, me deu vontade de procurar um estande de meu estado, mas achei que o Pará estaria ainda muito longe das capitais, como já cantou os Engenheiros do Hawai.
Hoje leio o blog do Galeno Amorim e fiquei feliz por ver que o Ceará realizou uma reunião na Assembléia Legislativa daquele estado, reunindo todos os integrantes da cadeia do livro de lá, para que juntos encontrem um caminho para estimular o aumento da leitura entre seus habitantes. Além disso, o governo federal criou e lançou plano de incentivo à leitura, bem como alguns governos estaduais e municipais. O Fundo de Incentivo à Leitura finalmente sairá do papel após acordo entre os livreiros e o Ministério da Cultura, e isso já vem há alguns anos para ser fechado, desde quando o Brasil isentou as editoras de pagamento de impostos sobre o livro. Algo em torno de 9% a 11%.
Isso tudo chama atenção para uma coisa: ler é bom sim, nos faz viajar por lugares nunca conhecidos, compartilhar ideias com outras pessoas, ver belas ilustrações e tudo o mais, porém, acima de tudo, ler promove um desenvolvimento mais justo, e isso está mais do que provado em pesquisas do IPEA e outras tantas mais, e o Brasil é um país que tem uma população gigante, adormecida ainda para as letras, e nem estou falando aqui da quantidade de analfabetos que absurdamente ainda temos. Não foi à toa que o grupo Record, o maior grupo literário do Brasil, detentor de mais de 11 selos editoriais, anunciou que investirá dez milhões de reais para produção de dez milhões de livros em 2011, dobrando sua produção e focando não nas classes A e B, mas na classe C, que, nas palavras de Luciana Villas Boas, editora geral da Record, "já percebeu a importância da leitura bem antes de adquirir esse hábito".
As iniciativas de incentivo à leitura que estamos vendo são o início de um processo de mudança importantíssimo no país. Silenciosamente, veremos em breve uma relação direta entre o aumento da quantidade de livros lidos e a redução de índices indesejáveis como violência e pobreza. Um indivíduo, uma cidade, um estado, um país, se formam assim, e aos estados que ainda não iniciaram suas conversas e seus encontros, como o Ceará, que segue atento o curso da história, se posicionando como protagonista na construção de políticas públicas nessa direção, tratem de aprender, de entender que esse será um caminho sem volta, e todos só temos a ganhar. A Colômbia está aí para nos provar isso.
Sento para escrever este texto e me lembro novamente do estande gaúcho, e ainda me vem à cabeça a pergunta: quantas editoras o meu estado tem? Quantas editoras o seu estado tem? E quando é que vamos nos movimentar para fazer com que os demais cidadãos, além de nós, leiam mais e aprendam a conviver em paz e com o desenvolvimento merecido?
A resposta a isso está em nossas ações, em nossa crença e em nossas cobranças pelo estabelecimento de políticas que fomentem a criação de uma geração de leitores. Mãos à obra, e boa leitura dos livros e do mundo!
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Ler nos alfabetiza de nós mesmos. Adorei o post... Gostar de ler passa pelo afeto, pela emoção que é entregar-se a uma estória. Teu texto lembrou um post meu, que deixo aqui em link pra quem tiver curiosidade.
ResponderExcluirhttp://misticasfemininas.blogspot.com/2009/06/releitura.html
Bjs
Caro Edney. Gostei muito do post...e a pergunta continuará ressoando num tom de lamento: quantas editoras o nosso estado tem mesmo?
ResponderExcluirAdorei o texto com suas impressões sobre o Círio, e ainda mais a idéia de uma "diretoria da festa da cidade"!
ResponderExcluirÉ necessário construiralternativas de governança mais legítimas e eficazes, pois nossa estrutura de poder envelheceu, e não é mais capaz de governar efetivamente pelo bem comum, coisa que talvez nunca tenha sido.